JORGE VENTURA
Chego a saciar a sede
ao beber tua noite.
Vinho tinto e rascante
nas lentes da taça!
De alegria e carne
exponho a boca cheia.
Todos os teus desejos
são minha graça.
Mordo as horas, mastigo
o tempo.
Descubro em cada gole o
teu segredo.
Não querias um Deus
junto a ti para brindar?
Alguém, de entre mitos,
escolhido a dedo?
Tintim! Ouço o tilintar
de nossos corpos,
volúpias derramadas
(tua e minha).
A língua saboreia livre
sem tomar fôlego.
Os mágicos prazeres vêm
das vinhas.
Uma nova safra nasce
neste instante.
Velho moinho em que fui
trigo e ora pão,
te dou sustento à luz
do deslumbramento.
Apresento o milagre da
transformação!
Faço da farra e do amor
o meu banquete.
Celebro a vida à mesa
farta (uvas e nacos).
Nada mais sagrado, nada
mais profano:
o Zé-ninguém de ontem é
hoje o teu Baco!
In Coletânea Perfil
APPERJ (Oficina Editores, 2005)
CULPA
JORGE VENTURA
Tecido raro
Última moda
Corpo coberto
de pano e culpa
Mentira e classe
Dono da rua
De mais a roupa
De menos o homem
In Antologia Ponte de
Versos – 8 Anos (Editora Ibis Libris) – 2008
MARIONETES
JORGE VENTURA
Existe entre nós
um par com duas pontas
Cada qual com dois prós
cada qual com dois
contras
Puxa-se uma corda daqui
outra dali
mãos e pernas
atrapalham-se
emaranhadas
em movimentos
manipulados
sabe Deus por quem
O vaivém dos gonzos
range aos limites
estipulados
em meio a trapos farrapos
e desculpas
esfarrapadas
Duas marionetes sem
brio
e a relação por um fio
In República dos Poetas
- Antologia Poética (Editora Museu da República, 2005)
ORIGAMI
JORGE VENTURA
Quando a ideia me
perturba
entre o barulho e o
silêncio
tudo é um só
contrassenso
Que inocência ou culpa
virá em vão me julgar
neste papel tumular?
Reparto em dobras meus
textos,
discursos e manuscritos
(de abismos e de
delírios)
nas páginas,
palimpsestos
Reparto também a folha
Metade doutra metade
do que é múltiplo e
arte
E antes que a ideia se
recolha
e a angústia vire bolha
e o papel retorne seda
nas dobraduras das
letras
o verso assim se
desdobra
Pois toda palavra é
obra
pra muito além do poema
In Antologia Poesia do
Brasil – Volume 13 (Org: Ademir Bacca) – 2011
RITOS
JORGE VENTURA
desanoitece quando
aurora
corujas viram
passarinhos.
lençóis crepitam de
quereres
ouvem-se urros e
sussurros.
descobertas:
paixão é rito de
barulhos
amor, de silêncios.
In Revista Literária
Plural (Oficina Editores, 2010)
COSTURA
JORGE VENTURA
Para fechar ferida
Agulha e linha
Tua mão à minha
A costurar a vida
In Coletânea Terça
ConVerso no Café – 4016 dias de Poesia (Edições Galo Branco, 2010)
IMPLUMES
JORGE VENTURA
em pleno sertão
o inaudível canto
dos anjos (meninos
de pó e poeira)
herdeiros das nuvens,
crentes, sobrevoam
mas sem que saibamos
seus sonhos em sépia
na lira do tempo,
o voo cego e implume
In Faca de Ponta, Fogo
de Palha (Oficina Editores, 2012)
EXECUÇÃO
JORGE VENTURA
não se derrama o sangue
sem causa ou vingança
não se escreve à toa
quando se mancha a
folha
nem em nome do Pai
tanto pranto se esvai
depressa como a tinta
maldita mágoa à míngua
no branco secular
do papel, a palavra
agoniza e se entrega
às honras do poeta
que, herói ou vilão,
quem dele sabe então,
ergue o sabre, sua
pena,
e executa o poema
In Faca de Ponta, Fogo
de Palha (Oficina Editores, 2012)
FOSSE A FACA, FOSSE O
FOGO
JORGE VENTURA
Fosse a faca com seu
brilho de prata
a imagem que se espalha
pelo espelho,
mas o que se vê,
rebrilha vermelho,
olho d´água de pranto:
sangria vasta.
Fosse o leito do rio
língua de fogo
a lamber feridas,
salvar derrames,
mas o que se sente, já
tarde e exangue,
é flagelo da carne,
exposta em tocos.
Fosse um só curso sem
corte de lâmina
ou desnível de vida
– lume flúveo,
mas o que se vinga na
luta em fluxo
ruma em desonra,
desordem e infâmia.
Fosse a força vã de
dois afluentes
o encontro de paz entre
duas famílias,
mas o que se banha do
abraço líquido
corre turva como almas
turbulentas.
In Faca de Ponta, Fogo
de Palha (Oficina Editores, 2012)
PONTO DE CRUZ
JORGE VENTURA
choro
a erosão
do tempo
traçado
em ravinas
sei do que é
deserto:
o caminho
do homem
a vida é trama
dedicada à seca
entrelaçam-se
desmandos
desenganos
desenredos
no horizonte
de esperas
o sertão bordado
de mandacarus
escrevo meu rumo
no ponto de cruz
In Faca de Ponta, Fogo
de Palha (Oficina Editores, 2012)
MINI-BIOGRAFIA
DE JORGE VENTURA
Jorge
Ventura é poeta, ator, jornalista e publicitário. Atualmente, é Diretor de
Comunicação Social da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Rio de
Janeiro) e do SEERJ (Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro ). É
também Cônsul Poetas Del Mundo (região Recreio dos Bandeirantes/RJ), Membro da
SBPA (Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas) e Membro da IWA
(Associação Internacional de Escritores e Artistas).
Além de
performances e encenações poéticas, Jorge Ventura vem atuando nos principais
saraus e movimentos culturais do sudeste e sul do Brasil. Publicou quatro
livros: Turbilhão de Símbolos (Imprimatur, 2000), Surreal Semelhante
(Imprimatur,2003), Sock! Pow! Crash! – 40 anos da série Batman da TV (Estudo
Jornalístico | Opera Graphica, 2006) e
Faca de Ponta, Fogo de Palha (Oficina Editores, 2012). Premiado em muitos
concursos e festivais, como poeta e melhor intérprete, sua poesia está presente
em dezenas de antologias, sites, jornais online e portais literários.
Parabéns pelos belíssimos poemas!!! Obrigada Naldo, por me ter dado a conhecer este excelente poeta seu amigo!Bem -hajam ambos, por nos deliciarem com tão eloquentes e poéticas palavras!! Recebam o meu abraço de amizade!!!!
ResponderExcluirMuito obrigado pelas palavras elogiosas ao meu trabalho, Maria. A sua opinião é importante e a sua força um grande incentivo para mim. Fique à vontade para compartilhar com os amigos e poetamigos. Beijos, JV.
ExcluirMeus queridos amigos Naldo e Jorge. Este Blog está cada dia mais lindo. Sou fã incondicional do meu amigo Jorge, trabalho com ele em nosso DUO e me sinto privilegiada por conviver com a poesia única deste nosso grande poeta. Obrigada, obrigada, obrigada!
ResponderExcluirEurídice Hespanhol
Minha grande amiga e excelente poeta, Eurídice Hespanhol, com quem tenho a honra de partilhar um trabalho maravilhoso - o Duo Sem Fronteiras. Obrigado pela força de sempre, querida! Beijos, JV.
ExcluirImponência total nessa foto de olhos de tigre dando bote (rsrsrsr)
ResponderExcluirBelos versos, parabens ao blog por estar cada dia mais e mais completo.
Beijos amigo Jorge Ventura.
Seu comentário é tão imponente quanto a foto do poeta...rs Brincadeira à parte, querida Kedma, seu depoimento é um privilégio para mim. Obrigado pela força de sempre. Beijão, Jorge Ventura
ExcluirSalve Jorge!
ResponderExcluirSalve senhor dos versos viscerais,
de um talento estilístido singular. Salve pela descrição
de vivências, pegadas, sentimentos que nos fazem querer mais
mais e mais, tornando sua poética uma doce Ventura!
Salve, Jorge Ventura!
com toda admiração,
Karla Julia
Nossa, Karlinha, fiquei emocionado! Seu depoimento foi uma verdadeira homenagem. Sinto-me honrado com a sua participação. Beijo carinhoso, Jorge Ventura
ExcluirSão tantas as habilidades que Jorge Ventura nos oferece, com seu estilo doce e bravo na medida e momento certo. E... Que olhos, hein!
ResponderExcluirSucesso sempre!
Celi Luz
Minha querida poetamiga Celi, suas palavras sempre me dão força para seguir adiante. Sou grato pelo carinho, respeito e admiração. Beijão! Jorge Ventura
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBonito,seus poemas são belos!
ResponderExcluirBeijo grande
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirSandrinha, bonita, sua opinião significa muito para mim. Sinto-me honrado com o seu comentário. Beijão, Jorge Ventura
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