sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ANANITA REBOUÇAS


APARTAMENTO
Ananita Rebouças

Pelas paredes do apartamento,
Vai se desenrolando o isolamento.
O piso, o chão, o teto;
tudo enrola, tudo isola
e põe na caixola
muita, mas muita mariola.

Mas as paredes falam,
e as portas se calam.
Mas as janelas embalam
Os sonhos,
tristes, feios, medonhos.

Que Graças,
se diluem na vista,
da pista,
que vai e escorrega
e pega ao longo do rombo
Que já se perdeu de vista,
Mas que ainda insiste na Conquista.

GRAVURA
Ananita Rebouças

Gravura, rasura, textura, lisura.
Afinal de contas, quem realmente tem compostura?

A rasura esboça e faz a troça.
Mas realmente sua textura,
por mais que possa,
precisa de lisura.
Senão, jamais será Gravura!

A Gravura que é bela,
que respeita e desrespeita
as regras da Aquarela;
qual mesmo será a sua textura?

Mas afinal (de novo):
que regras são essas?
Regras ou simples misturas?

Serão Gravuras ou rasuras,
uma vez que logo ali,
mais adiante
vão gerar
novas texturas,
mesmo que sem Lisuras.
Ananita Rebouças

SE ILUMINA
Ananita Rebouças

Ana mulher,
Ana menina.
Lá vai ela na sua sina;
Que às vezes a alucina,
Outras, a vida a fascina.
Não importa como...
Quando ou onde.
Por aí, lá vai ela
Ana.
Ela pensa e,
com a ajuda de Deus,
se auto ilumina.

FILHOS DE DEUS
Ananita Rebouças

Não é problema meu
O que ocorre ao filho teu.

Não é problema meu?

O que ocorre ao filho teu
Esbarra no meu e no teu.

Esbarra um no outro,
O que esbarra no filho teu.

Esbarra e se propaga, o que ocorre,
ao filho teu e meu.
Esbarra e se propaga também
aos filhos
que não são nem seus, nem meus.

Mas todos somos filhos.
Filhos de uns,
Filhos de dois,
Filhos de muitos.
Filhos de Deus?
Dizemos que sim.

Mas de quem escolhemos
Filhos realmente ser?
Quando escolhemos
Cuidar ou não dos filhos
que supostamente achamos
serem menos filhos,
do que nós,
do nosso verdadeiro Deus?

DANÇA
Ananita Rebouças

“Tem horas que cansa”;
mesmo que contrarie as regras da língua nacional.

Mas há horas em que cansa mesmo.
Deixar de empunhar a lança,
quando o coração aparentemente balança,
mas a mão não lá alcança
e, aos poucos, vai se perdendo a esperança
de uma nova dança
que mais uma vez se repete.

Repete-se na redundância,
de uma mera e cansativa,
assonância.

ANO NOVO
Ananita Rebouças

Mas afinal, o que realmente há de novo no ano novo?
Mais um giro de translação?
Menos um ano por aqui na Terra?
O que há de novo?

Por que então fazer tudo de novo?
Tudo sim, pois tudo continua.
Não recomeça.
Na verdade, é tudo novo no velho.
É a continuação do que já há,
com a esperança de acertar.
Com a verdadeira sensação de que não se chegou ao fim.

Enfim,
O ano novo
só renova
a vontade de permanecer aqui.

HOMILIA
Ananita Rebouças

Diante do Altar, eu me ajoelho.
E, de meus erros, me recordo diante de Ti.
Erros que ferem a Ti;
erros que ferem muito mais a mim (?)

Erros não são acertos.
São tentativas de consertos mal urdidos.

Erros são diferentes de faltas, de pecados.
São talvez bem piores,
pois ferem seu próprio agente.

Peço perdão pelos erros, não pelos pecados.
Os pecados, cabe apenas a Ti julgar seus conceitos;
não a mim.
Peço deles o conserto,
Do qual não pude nem tentar ousar.

Em homilia, reconheço Tua Grandeza
e peço o não erro que difere do mero acerto.
Mas peço também sua Bênção,
Por não ter tido o erro do medo,
De errar
Quando cri acertar.

A CRIANÇA
Ananita Rebouças

A criança
vê no doce a esperança.
Mas não percebe aquilo que vê.

Apenas, e simplesmente sente,
a doçura e a candura dos primeiros tempos.
Dos tempos de poucos e simples lamentos,
que ainda assim parecem enormes,
gigantescos e muitas vezes grotescos.

Vê o doce, o pirulito e a bola de ar.
Vê tudo colorido
farto e bonito.

Vê isso tudo mesmo?
Qual criança vê isso?
As cores e os odores dos tempos “primevos”?
Ela teme perdê-los: as cores e os odores.
E, quanto mais teme, mais as bolas coloridas sobem ao céu.
E a criança chora e, enquanto chora,
mais e mais a bola colorida vai embora.
Então ela percebe
que a bola não vai voltar.
Nota que seu choro
só faz aumentar a dor,
da perda,
das cores,
que ela mesma irá ter que pintar.

É A CARNE!
Ananita Rebouças

Carna, carna, carnaval!
É a carne!

A carne?

A carne grita!
Pede, reclama!
Ela precisa ser alimentada!
Muito bem alimentada!

Com cores, purpurinas e muita cerveja
A carne será sim alimentada
Mas... será bem alimentada?
Ou será envenenada com as ilusões da fantasia?
Desses quatro dias de muita folia?

Que alimento ela receberá?
De qual alimento realmente necessita?
Do prazer? Do ter? do possuir?
O alimento se consome...
O alimento que não alimenta corrói.
A carne dói.

Conclusão pessimista?
A carne sente a falta do alimento
Do alimento que vai nutrir
e fazer parar o seu tormento.
A carne clama! Ela realmente reclama!
Ela precisa ser saciada.
Mas o tipo de alimento,
Quem escolhe
É você.

PAGELANÇA
Ananita Rebouças

Tá na hora da mistura!
De juntar toda a formosura,
deixando logo de lado qualquer tipo de compostura.
para, por fim, jogar tudo dentro da fervura.

Deixar cozer,
Deixar ferver,
Deixar ali para logo a borbulha ali aparecer.

A borbulha cresce
e faz surgir algo saboroso que está por vir.
A borbulha brilha
e faz brilhar os olhos de quem a vê.

A borbulha é doce,
Mas, com uma pitada de sal para não enjoar,
ela cede lugar
e se transforma
num novo e saboroso prato
que alguém acabou de inventar.


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