APARTAMENTO
Ananita
Rebouças
Pelas
paredes do apartamento,
Vai se
desenrolando o isolamento.
O piso, o
chão, o teto;
tudo
enrola, tudo isola
e põe na
caixola
muita,
mas muita mariola.
Mas as
paredes falam,
e as
portas se calam.
Mas as
janelas embalam
Os
sonhos,
tristes,
feios, medonhos.
Que
Graças,
se diluem
na vista,
da pista,
que vai e
escorrega
e pega ao
longo do rombo
Que já se
perdeu de vista,
Mas que
ainda insiste na Conquista.
GRAVURA
Ananita
Rebouças
Gravura,
rasura, textura, lisura.
Afinal de
contas, quem realmente tem compostura?
A rasura
esboça e faz a troça.
Mas
realmente sua textura,
por mais
que possa,
precisa
de lisura.
Senão,
jamais será Gravura!
A Gravura
que é bela,
que
respeita e desrespeita
as regras
da Aquarela;
qual
mesmo será a sua textura?
Mas
afinal (de novo):
que
regras são essas?
Regras ou
simples misturas?
Serão
Gravuras ou rasuras,
uma vez
que logo ali,
mais
adiante
vão gerar
novas
texturas,
mesmo que
sem Lisuras.
Ananita
Rebouças
SE
ILUMINA
Ananita
Rebouças
Ana
mulher,
Ana
menina.
Lá vai
ela na sua sina;
Que às
vezes a alucina,
Outras, a
vida a fascina.
Não
importa como...
Quando ou
onde.
Por aí,
lá vai ela
Ana.
Ela pensa
e,
com a
ajuda de Deus,
se auto
ilumina.
FILHOS DE
DEUS
Ananita
Rebouças
Não é problema
meu
O que
ocorre ao filho teu.
Não é
problema meu?
O que
ocorre ao filho teu
Esbarra
no meu e no teu.
Esbarra
um no outro,
O que
esbarra no filho teu.
Esbarra e
se propaga, o que ocorre,
ao filho
teu e meu.
Esbarra e
se propaga também
aos filhos
que não
são nem seus, nem meus.
Mas todos
somos filhos.
Filhos de
uns,
Filhos de
dois,
Filhos de
muitos.
Filhos de
Deus?
Dizemos
que sim.
Mas de
quem escolhemos
Filhos
realmente ser?
Quando
escolhemos
Cuidar ou
não dos filhos
que
supostamente achamos
serem
menos filhos,
do que
nós,
do nosso
verdadeiro Deus?
DANÇA
Ananita
Rebouças
“Tem
horas que cansa”;
mesmo que
contrarie as regras da língua nacional.
Mas há
horas em que cansa mesmo.
Deixar de
empunhar a lança,
quando o
coração aparentemente balança,
mas a mão
não lá alcança
e, aos
poucos, vai se perdendo a esperança
de uma
nova dança
que mais
uma vez se repete.
Repete-se
na redundância,
de uma
mera e cansativa,
assonância.
ANO NOVO
Ananita
Rebouças
Mas
afinal, o que realmente há de novo no ano novo?
Mais um
giro de translação?
Menos um
ano por aqui na Terra?
O que há
de novo?
Por que
então fazer tudo de novo?
Tudo sim,
pois tudo continua.
Não
recomeça.
Na
verdade, é tudo novo no velho.
É a
continuação do que já há,
com a
esperança de acertar.
Com a
verdadeira sensação de que não se chegou ao fim.
Enfim,
O ano
novo
só renova
a vontade
de permanecer aqui.
HOMILIA
Ananita
Rebouças
Diante do
Altar, eu me ajoelho.
E, de
meus erros, me recordo diante de Ti.
Erros que
ferem a Ti;
erros que
ferem muito mais a mim (?)
Erros não
são acertos.
São
tentativas de consertos mal urdidos.
Erros são
diferentes de faltas, de pecados.
São
talvez bem piores,
pois
ferem seu próprio agente.
Peço
perdão pelos erros, não pelos pecados.
Os
pecados, cabe apenas a Ti julgar seus conceitos;
não a
mim.
Peço
deles o conserto,
Do qual
não pude nem tentar ousar.
Em
homilia, reconheço Tua Grandeza
e peço o
não erro que difere do mero acerto.
Mas peço
também sua Bênção,
Por não
ter tido o erro do medo,
De errar
Quando
cri acertar.
A CRIANÇA
Ananita
Rebouças
A criança
vê no
doce a esperança.
Mas não
percebe aquilo que vê.
Apenas, e
simplesmente sente,
a doçura
e a candura dos primeiros tempos.
Dos
tempos de poucos e simples lamentos,
que ainda
assim parecem enormes,
gigantescos
e muitas vezes grotescos.
Vê o
doce, o pirulito e a bola de ar.
Vê tudo
colorido
farto e
bonito.
Vê isso
tudo mesmo?
Qual
criança vê isso?
As cores
e os odores dos tempos “primevos”?
Ela teme
perdê-los: as cores e os odores.
E, quanto
mais teme, mais as bolas coloridas sobem ao céu.
E a
criança chora e, enquanto chora,
mais e
mais a bola colorida vai embora.
Então ela
percebe
que a
bola não vai voltar.
Nota que
seu choro
só faz
aumentar a dor,
da perda,
das
cores,
que ela
mesma irá ter que pintar.
É A
CARNE!
Ananita
Rebouças
Carna,
carna, carnaval!
É a
carne!
A carne?
A carne
grita!
Pede,
reclama!
Ela
precisa ser alimentada!
Muito bem
alimentada!
Com
cores, purpurinas e muita cerveja
A carne
será sim alimentada
Mas...
será bem alimentada?
Ou será
envenenada com as ilusões da fantasia?
Desses
quatro dias de muita folia?
Que
alimento ela receberá?
De qual
alimento realmente necessita?
Do
prazer? Do ter? do possuir?
O
alimento se consome...
O
alimento que não alimenta corrói.
A carne
dói.
Conclusão
pessimista?
A carne
sente a falta do alimento
Do
alimento que vai nutrir
e fazer
parar o seu tormento.
A carne
clama! Ela realmente reclama!
Ela
precisa ser saciada.
Mas o
tipo de alimento,
Quem
escolhe
É você.
PAGELANÇA
Ananita
Rebouças
Tá na
hora da mistura!
De juntar
toda a formosura,
deixando
logo de lado qualquer tipo de compostura.
para, por
fim, jogar tudo dentro da fervura.
Deixar
cozer,
Deixar
ferver,
Deixar
ali para logo a borbulha ali aparecer.
A
borbulha cresce
e faz
surgir algo saboroso que está por vir.
A
borbulha brilha
e faz
brilhar os olhos de quem a vê.
A
borbulha é doce,
Mas, com
uma pitada de sal para não enjoar,
ela cede
lugar
e se
transforma
num novo
e saboroso prato
que
alguém acabou de inventar.
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