sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CARLOS ORFEU


EU CONFESSO!
 Carlos Orfeu

Fulmino estorvos
deixo as farpas
quebro o tempo
planto asas

Lavro rumos
ritmando estradas
transformando o que vejo
em paisagens sem endereços

No corpo de cada poema
eu confesso!

Que sou apenas,

um homem desvirginando
paisagens numa livre penetração
na vulva semântica
dos versos

O CÉU CHORA

O céu chora na tarde,

nas árvores, nas nucas
nos telhados, nas ruas do
Rio de Janeiro

Encharcando o passarinho
de um triste canto.

O silêncio...

DICOTOMIA
 Carlos Orfeu

Uma parte distante
Outra finda.
Uma clara outra escura
Uma é equilíbrio, outra desequilíbrio
No mesmo espaço líquido

Irracional
Atemporal.

Há tempos queimei minhas asas,
Para aprender a voar
Com os pés.

Catando nas estradas
Desimpedidas de mim,
Partes quebradas,
Memórias divididas.

Tudo que foi dito,
Mofa.

Busco o árduo inaudito
Perdido no indizível,
Dividindo-me
Dispersando-me
Vencendo o pior
Dos inimigos.

Eu

UM ÚNICO NOME
Carlos Orfeu 

 Ela atende por tantos nomes
na vitrine banal das
esquinas

Debaixo da pele cravada de pecados
esconde os segredos mais singelos
por trás das cicatrizes de teu
ofício

Num sincero ato de uma entrega
em duplo êxtase na madrugada
íntima,

ele verdadeiramente a chama de um
único nome
 meu amor
  
ENQUANTO O MUNDO DECAI
Carlos Orfeu

Beija-me agora baby

Enquanto o mundo decai
morre mais um,
nasce outra semente
sorriem ou choram.
Enquanto gira a órbita,

descobrem a cura do câncer, outro novo planeta.
Uma nova célula, um novo presságio para o fim do mundo,
Enquanto evoluem
o país é condicionado pelas leis mais absurdas;
uma passeata revolucionária invade as ruas
o menino ama pela primeira vez
A menina saboreia o sexo pela primeira vez

Outro acidente acontece na Avenida Brasil
um tiro encontra um peito, outro corpo cai.

Enquanto nós amamos o mundo gira o tempo muda
O nosso congela!
Num átimo cálido de um beijo

Enquanto o mundo decai
Nós amamos


ENTRE A PALAVRA E O BEIJO
 Carlos Orfeu

Na boca a palavra,
Entre a palavra e o ar
A sede de um beijo
  
No atrito do copo vazio no vazio o cigarro
Preenchendo a solidão de cinzas,
Manchando a borda do beijo gritando vermelho na memória
Carregando um nome, engordando o instante de
Saudades

Nascendo palavras dando a luz a outras palavras aquarelando
O poema que enxuga os prantos do copo
Cheio de ar, de dor,
De lembranças

A noite abre as portas enquanto janelas se fecham
As luzes se apagam, na alma sempre acendo uma chama
E caminho nos meridianos das linhas abrindo estradas internas
Fechando fendas girando um carrossel alumbrado de contrapontos

Guardando bem aqui no fundo
O sabor de um beijo a raiz de um corpo

Mais fundo
Mais fundo
Mais fundo
Mais fundo

O POETA TRANSMUTA
 Carlos Orfeu

A poesia é substância
Célula viva em cada alma
Pulsando verbos e vidas,
Nutrindo paisagens infinitas

A luta com a palavra é constante conflito

Sangra-se
Inspira-se
Transpira-se

O poeta morre e renasce
Na correnteza do tempo

Transmuta
  
CÁLIDA CRISÁLIDA
Carlos Orfeu 

Nas infinitas paisagens de teus olhos de Vênus
Reencontro-me
Caminhando até que os teus se fechem

Na janela do 205 o olhar vaga como
Um gatuno, enxergando o prelúdio do vira-lata.
Vê tanto que até ouve os gemidos de outros quartos
Como mariposas sonoras.
  
Em nossas pálpebras, as âncoras do sono vão pesando,
Que vagarosamente fechamos exaustos

Até que amanheça na cálida crisálida
E chegue um beijo solar de bom dia

ESTRADAS
Carlos Orfeu

Levo nas solas de meus pés calcinados,
Estradas de saudades e espinhos,
E um tempo insistente em sempre passar
Correndo a cem por hora.

Estradas de pedras
Meus sonhos vão passar
Nas fúrias de meus versos
Renascendo

Em todo canto
Em toda gente
Em qualquer parte

Revolucionando-me

Escrevendo o
Meu existir


SE VIESSES
 Carlos Orfeu

Se pela tardinha, viesses
Farias meu coração sorrir no fundo desta
Solidão

Se pela tardinha, viesses
Pisaríamos a garoa de novembro
Nas folhas não varridas de sábado

Infelizmente me verias chorar
Como em todo entardecer,

No dorso de um tristonho domingo
Caindo pensamentos nas esquinas
Do tempo.

Se viesses pela tardinha,
Levantaria sorrisos em mim como bandeiras
E enxugarias minhas lágrimas sem razão
Pingando salgadas no café e apagando o cigarro

Que não consigo parar!

No rádio
A música canta e completa meus erros e enganos
Angustiado suspiro sonhando


Ah se viesses me ver...

3 comentários: