DESPEDIDA
Vânia
Moreira Diniz
Quando eu
parti da minha terra,
Admirando
sua beleza em nostalgia,
Subindo
triste e pensativa a serra,
As
lágrimas desciam em lenta agonia.
Ali eu
tinha vivido o tempo inteiro,
Na cidade
maravilhosa, uma elegia,
O
sofrimento era imenso e certeiro,
E no
pensamento as praias eu via.
Do mar
tinha antecipada saudade,
Recordava
suas águas que eu amava,
Mas a
despedida era uma verdade
Que por
dentro amarga eu lastimava.
Antevia
outra cidade outra vida,
Concepções,
pensamentos e valores,
Diversas
transformações e morada,
Que
subjetivamente suscitavam pavores.
Sentia
falta de família e amigos queridos,
Que nas
horas lentas de dor ou martírio,
E nos
episódios tão maravilhosos vividos,
Estavam
sempre ao meu lado em convívio.
A minha
infância lembrava com carinho,
Os
colegas eu evocava com forte ternura,
E os via
todos em uniforme azul-marinho,
Com o
quente casaco amarrado à cintura.
Deixava
as minhas lembranças mais tépidas,
Ao calor
conhecido e familiar da terra natal,
Na qual
corria com pernas fortes e lépidas,
Ao
encontro de realizações frágeis como cristal.
Outra era
iniciava e esperava que a juventude,
Ajudasse
a superar as mágoas da despedida,
E
prosseguia querendo mudar a saudosa atitude
Da
temporada encantada e sedutora já vivida.
ALÉM,
MUITO ALEM...
Vânia
Moreira Diniz
Além,
muito além estão as recordações,
Além, na
lembrança,
Além, no
consciente intangível,
Além, num
mundo talvez inexplorado,
E
procurado...
Além,
muito além...
Em raízes
desconhecidas
Do
universo interior, coberto de fantasias,
Aonde
iria intranquila repousar,
Onde não
teria o porto constante,
A todo
instante...
Além,
muito além das fronteiras da razão,
Aquém da
lucidez incontrolável,
No limite
do ego observado,
Pesquisado
Ou
estudado.
Além
muito além...
Onde não
existe
Vulgaridade
de dias vividos,
Evocações
tão cantadas,
Nem
lirismos inocentes,
Inconsequentes.
Muito
além do que alcançamos
Ou nos
libertamos...
Além,
muito além,
Onde as
lágrimas cristalizam,
Dores se
diluem,
Aflições
inexistem
E a
profundidade insondável cresce
Fascinante,
misteriosa e inexplorada...
As
Imagens no consciente gravadas
Ficam
indeléveis,
Retardam,
porém retornam,
Sempre
inesquecíveis voltam.
Além, no
inconsciente, agasalhadas,
Abrigadas
com censura prévia,
Resguardadas
de eternas memórias protegidas,
Por vezes
não regressam
Ficam lá,
além, muito além...
COMO TE
PRESSINTO
Vânia
Moreira Diniz
Eu te
pressinto em todas as horas,
Nos
momentos de maior emoção,
Quando
meu coração rememora,
O afeto
transformado em paixão.
Eu te
pressinto no instante de ternura,
Nas
lembranças de todos os devaneios,
Naquele
gesto de incontida doçura,
Em que o
espírito se desprende em enleios.
Eu te
pressinto na intensa alegria,
Nos
profundos recolhimentos d’alma,
E nas
crises em que anseio por calma.
Eu te
pressinto na variedade de cada dia,
Na
explosão do desejo oculto e vigoroso,
E na
expressão do sentimento carinhoso.
OLHOS
AZUIS
Vânia
Moreira Diniz
Quando
contemplava aqueles olhos azuis,
Profundos,
expressivos às vezes assustadores,
Não
compreendia nunca na sua imensidão,
O valor
inexplicável dessa profundidade.
Olhos
azuis que diziam muito de si mesmo,
Que
traduziam carinho e severidade,
No mesmo
olhar longo e transbordante
De
brandura involuntária revelada a cada momento
Olhos
azuis que por vezes se me afiguravam cristalinos,
Manifestando
rancor ou extravasando numa mesma expressão,
Meiguice,
amor e doação nunca vistas.
Olhos
azuis que eu amei e nos quais senti segurança,
Que me
bastavam na hora do sofrimento irremediável,
Que se
fazia presente, quando todos me faltavam descomprometidos,
E que lá
estavam quando eu mais sentia dor ou solidão.
Olhos
azuis que meu pai ostentava indiferente à sua beleza,
Que
escondia em óculos de armações elegantes,
Olhos
azuis que eu soube fitar com ternura ou mágoa,
Mas que
hoje os vejo até no escuro brilhando azuis,
Inesquecíveis
e sinto dentro d’alma,
O
incrível magnetismo radiante
E quase
onipotente.
VACILAÇÃO
Vânia
Moreira Diniz
Quando
nas noites estreladas eu cismo,
Procurando
me recolher arredia,
Indiferente
à beleza nas coisas simples,
Desconhecendo
o mistério sedutor da vida,
Renunciando
ao segredo que carrego
E olhando
simplesmente sem nada perceber
Eu
vacilo...
Quando
não entendo a alma de mim próxima,
Os
contrastes que me atraem e amedrontam,
E procuro
caminhar firme e com altivez,
Sem me
preocupar com os percalços adiante,
Contornando-os
despreocupada e distraída
E nada
enxergo do que me cerca exuberante
Eu
vacilo...
Quando
não penetro no coração tão amado,
E estou
sem entusiasmo e inconformada,
Querendo
entender um momento sem lógica,
Negando a
pujança que meus olhos veem
Ou
olvidando a beleza inestimável do perdão
Eu
vacilo...
Nos
momentos de depressão e incerteza,
Sem
conseguir sublimar a mágoa ou a dor,
Quando a
luminosidade não consegue me atingir,
E uma
névoa tolda meus olhos em sombras,
Impedindo
o raciocínio claro e lúcido
Eu
vacilo...
Quando
observo a miséria e o sofrimento,
Os
desprotegidos sem direito ao protesto,
Quando as
injustiças de qualquer forma
Escurecem
a terra viçosa e admirável
E quando
sou impotente em qualquer solução
Eu
vacilo...
VAZIO...
Vânia
Moreira Diniz
Contemplo
a minha volta e nada vejo
Não
enxergo,
Tudo
parece um grande mistério e rezo,
Sem
entender os segredos que preservo
E
conservo dentro do meu coração tão vazio.
Não
encontro ressonância e me distancio,
Não acho
a real certeza e me afasto,
Não vejo
a luz que direciona e me aparto,
Como se
nada conhecesse e me arredo.
Sinto a
leveza, tento pegar e não consigo,
Pressinto
a bondade e me aproximo,
Não
alcanço a sua extensão e choro,
E procuro
o ideal que já não creio.
As cores
não são do extenso universo,
As dores
perduram e triste lamento,
A frieza
que se esconde no retiro
De
ilusões em que me escondo.
Não quero
sentir a saudade do encontro,
Das lembranças
ocultas atrás do muro,
Do sonho
sempre e sempre revivido
E do
passado que se foi no escuro.
Só a
nostalgia perene eu vislumbro,
Sensação
de terna loucura e vazio,
Efusões
sepultadas no reencontro,
Coração
para sempre machucado.
Ando, e
me concentro,
Caminho,
O passo é
lento,
Inseguro
E
encontro o vazio.
BEIJO
Vânia
Moreira Diniz
Supremo e
magnífico gesto de amor,
Que é
capaz de traduzir a simples virtude
Transbordando
no desejo cheio de ardor.
Domínio
absoluto do prazer em plenitude.
Envolve
qualquer vibrante sentimento,
E o
transmite com ênfase e docemente.
O corpo
em chamas desfaz o tormento
Da louca
espera difícil e permanente.
É o
impulso natural, espontâneo e verdadeiro,
Tudo é
esquecido nesse momento de emoção
Na
integração de corpo e alma, sorrateiros.
Nada se
compara ao beijo fruto da paixão
Que
estremece em abalo os corações audazes.
E os leva
a paragens que jamais foram capazes.
MAR
ONIPOTENTE
Vânia
Moreira Diniz
Mar de
beleza tão onipotente,
Verde e
lindo, amplo, majestoso,
Seu poder
é sempre presente
E sua
força intrépida, um colosso.
Mar que
sempre forte me protegeu,
Nos
momentos em que dele precisei
E muitas
vezes meu coração careceu
De alento
e por ele em urgência procurei.
Mar da
minha terra, tão veemente,
Quisera
estar sempre perto confortada
E tocar
em suas águas simplesmente,
Sentindo
eternamente a magia da vida.
Mar
infinito cuja força é suavidade,
Beleza e
encanto na mesma proporção,
Tudo que
possa revelar é só verdade,
E sua
onipotência é natureza e razão.
As ondas
brancas que se quebram,
Em
harmonia exercendo seu fluxo
E brancas
e espumosas se elevam,
Marcando
da sua passagem o reflexo.
Mar amado
ruidoso, terno e fascinante,
Misterioso,
divino e permanente...
Com seu
fulgor será sempre calmante
E no
tempo te amarei eternamente.
MISÉRIA
Vânia
Moreira Diniz
Na
madrugada fria e silenciosa,
Viajo em
meu pensamento,
Entrevejo
irmão com fome e frio,
A dureza
dos dias sem perspectiva,
A
tristeza de não saber o que ofertar,
O pequenino
agitado pedindo comida.
Na
madrugada fria eu me encolho,
Visualizando
a dor do isolamento,
Do irmão
tão longe e sofrendo,
Nem um
afago, não conhece carinho,
O vento
como açoite carregando,
A vida
que ninguém sabe o que é.
Na
madrugada longa eu visualizo,
Os bebês
tão frágeis e pequeninos,
Os olhos
que ainda nem se abriram,
A
covardia de enfrentar sofrimentos,
Respiração
entrecortada e difícil,
E a fome
a lhe contrair os músculos.
Na
madrugada o pensamento e emoção,
Juntos
como a pedir misericórdia,
Pela
miséria tão profunda e próxima,
De quem
nem socorro conhece,
E o mundo
se debatendo sem concórdia
A
contemplar indiferente o espetáculo
Da morte
pelo mais vil motivo.
Na
madrugada eu nada enxergo,
Na dor eu
devagar me transporto,
O
aconchego parece uma blasfêmia,
E me
encolho com esquisito Pânico
A
refletir na dolorosa fome e frio,
De nossos
irmãos companheiros
De
estrada.
MONTANHAS
E PLANÍCIES
Vânia
Moreira Diniz
Na
juventude amei
E com
carinho reiterei,
Minha
paixão pelas montanhas
Que altas
e majestosas,
Impunham-se
maravilhosas.
E as
planícies tranquilas
Eu não olhava...
Costumava
na distância
Admirar,
Pasmar,
Pensar,
Nos
mistérios
Indecifráveis
Das
montanhas inescrutáveis.
E as
planícies suaves
Eu nem
via...
Sonhava
galgar,
Escalar
E
descortinar,
O mundo
de bem alto,
Lá da
montanha
Majestosa,
Suntuosa,
Em seu
soberbo perfil,
Viril.
E as
doces planícies
Eu
esquecia...
Arquitetava
quimeras
E
devaneava
Distante,
Em
pensamentos constantes,
Intrigantes
E
chocantes.
Sempre
Nas
montanhas,
Em suas
entranhas.
E as
planícies eu nem
Conhecia.
Indiferente...
Mas o
tempo passou,
Eu já não
delineava
O pico
elevado,
Tão
ressaltado,
Que
impressionara
Os dias
passados.
Suas
proporções gigantescas,
O olhar
não conseguia alcançar,
E os
sonhos não atingiam o lugar
Que tanto
me fascinara,
Encantara
E amara.
Percebi,
então, que existiam planícies.
Lindas,
atraentes,
De beleza
veemente,
Que
inspiravam poesia e doçura.
Entendi
que não conseguia enxergá-las,
Porque
sempre olhava para o céu
E altiva,
Inacessível,
Impenetrável.
Não
enxergava a terra
Só as
serras...
E a
planície, tão silenciosa,
Eu
comecei a amar,
Gentis e
amenas
Tolerantes
E
rasteiras.
Vaninha o gesto do amigo Naldo para contigo creio ser o merecido retorno do quanto prezas este e tantos Escritores e Poetas, estimulando, divulgando, enaltencendo a todos com despretenciosa gentileza. Parabéns querida Poetisa pela repercusão, um abraço a ti e ao querido e talentoso Naldo . O Blog já conhecia à convite deste Poeta, valeu revisitar através de tua pessoa que tem meu apreço e admiração incondicional a mais de uma década.
ResponderExcluirtua virgínia vica
Recebi seu convite,e aqui vim para aplaudir você Vania,grande Escritora ,
ResponderExcluirser Humano sem igual, e dar os cumprimentos ao seu amigo de tantos anos
Naldo, que é também um Membro Efetivo de nossa AVSPE.
parabéns
EFIGENIA COUTINHO
http://www.avspe.org/index.php
Recebi seu convite,e aqui vim para aplaudir você Vania,grande Escritora ,
ResponderExcluirser Humano sem igual, e dar os cumprimentos ao seu amigo de tantos anos
Naldo, que é também um Membro Efetivo de nossa AVSPE.
parabéns
Efigênia Coutinho
Querida Vania,
ResponderExcluirMeu dia começou alegre com a leitura de seus versos...Felicitando-a com carinho me rejubilio com sua conquista ,tendo seus versos publicados no blog de Naldo Velho. PARABÉNS!
Que você continue colocando seus dons para alegrar as pessoas, criando um mundo de maior harmonia, justiça e paz.
Espero que tudo esteja bem com você, Paulo e toda família e lhe desejo uma Quaresma, plena de graças e esperança.
Graças a Deus estou bem e na 2ª feira retomo minhas atividades no coléigo, tendo descansado bem nas férias.
Saudades e o abraço amgo da
Mère Menino Jesus.
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Vânia Diniz é uma grande poetisa. Parabéns a vocês!
ResponderExcluirNazareth Tunholi