sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

VÂNIA MOREIRA DINIZ


DESPEDIDA
Vânia Moreira Diniz

Quando eu parti da minha terra,
Admirando sua beleza em nostalgia,
Subindo triste e pensativa a serra,
As lágrimas desciam em lenta agonia.

Ali eu tinha vivido o tempo inteiro,
Na cidade maravilhosa, uma elegia,
O sofrimento era imenso e certeiro,
E no pensamento as praias eu via.

Do mar tinha antecipada saudade,
Recordava suas águas que eu amava,
Mas a despedida era uma verdade
Que por dentro amarga eu lastimava.

Antevia outra cidade outra vida,
Concepções, pensamentos e valores,
Diversas transformações e morada,
Que subjetivamente suscitavam pavores.

Sentia falta de família e amigos queridos,
Que nas horas lentas de dor ou martírio,
E nos episódios tão maravilhosos vividos,
Estavam sempre ao meu lado em convívio.

A minha infância lembrava com carinho,
Os colegas eu evocava com forte ternura,
E os via todos em uniforme azul-marinho,
Com o quente casaco amarrado à cintura.

Deixava as minhas lembranças mais tépidas,
Ao calor conhecido e familiar da terra natal,
Na qual corria com pernas fortes e lépidas,
Ao encontro de realizações frágeis como cristal.

Outra era iniciava e esperava que a juventude,
Ajudasse a superar as mágoas da despedida,
E prosseguia querendo mudar a saudosa atitude
Da temporada encantada e sedutora já vivida.

ALÉM, MUITO ALEM...
Vânia Moreira Diniz

Além, muito além estão as recordações,
Além, na lembrança,
Além, no consciente intangível,
Além, num mundo talvez inexplorado,
E procurado...

Além, muito além...
Em raízes desconhecidas
Do universo interior, coberto de fantasias,
Aonde iria intranquila repousar,
Onde não teria o porto constante,
A todo instante...

Além, muito além das fronteiras da razão,
Aquém da lucidez incontrolável,
No limite do ego observado,
Pesquisado
Ou estudado.

Além muito além...
Onde não existe
Vulgaridade de dias vividos,
Evocações tão cantadas,
Nem lirismos inocentes,
Inconsequentes.
Muito além do que alcançamos
Ou nos libertamos...

Além, muito além,
Onde as lágrimas cristalizam,
Dores se diluem,
Aflições inexistem
E a profundidade insondável cresce
Fascinante, misteriosa e inexplorada...

As Imagens no consciente gravadas
Ficam indeléveis,
Retardam, porém retornam,
Sempre inesquecíveis voltam.

Além, no inconsciente, agasalhadas,
Abrigadas com censura prévia,
Resguardadas de eternas memórias protegidas,
Por vezes não regressam
Ficam lá, além, muito além...

COMO TE PRESSINTO
Vânia Moreira Diniz

Eu te pressinto em todas as horas,
Nos momentos de maior emoção,
Quando meu coração rememora,
O afeto transformado em paixão.

Eu te pressinto no instante de ternura,
Nas lembranças de todos os devaneios,
Naquele gesto de incontida doçura,
Em que o espírito se desprende em enleios.

Eu te pressinto na intensa alegria,
Nos profundos recolhimentos d’alma,
E nas crises em que anseio por calma.

Eu te pressinto na variedade de cada dia,
Na explosão do desejo oculto e vigoroso,
E na expressão do sentimento carinhoso.

OLHOS AZUIS
Vânia Moreira Diniz                                           

Quando contemplava aqueles olhos azuis,
Profundos, expressivos às vezes assustadores,
Não compreendia nunca na sua imensidão,
O valor inexplicável dessa profundidade.

Olhos azuis que diziam muito de si mesmo,
Que traduziam carinho e severidade,
No mesmo olhar longo e transbordante
De brandura involuntária revelada a cada momento

Olhos azuis que por vezes se me afiguravam cristalinos,
Manifestando rancor ou extravasando numa mesma expressão,
Meiguice, amor e doação nunca vistas.

Olhos azuis que eu amei e nos quais senti segurança,
Que me bastavam na hora do sofrimento irremediável,
Que se fazia presente, quando todos me faltavam descomprometidos,
E que lá estavam quando eu mais sentia dor ou solidão.

Olhos azuis que meu pai ostentava indiferente à sua beleza,
Que escondia em óculos de armações elegantes,
Olhos azuis que eu soube fitar com ternura ou mágoa,
Mas que hoje os vejo até no escuro brilhando azuis,
Inesquecíveis e sinto dentro d’alma,
O incrível magnetismo radiante
E quase onipotente.

VACILAÇÃO
Vânia Moreira Diniz

Quando nas noites estreladas eu cismo,
Procurando me recolher arredia,
Indiferente à beleza nas coisas simples,
Desconhecendo o mistério sedutor da vida,
Renunciando ao segredo que carrego
E olhando simplesmente sem nada perceber
Eu vacilo...
Quando não entendo a alma de mim próxima,
Os contrastes que me atraem e amedrontam,
E procuro caminhar firme e com altivez,
Sem me preocupar com os percalços adiante,
Contornando-os despreocupada e distraída
E nada enxergo do que me cerca exuberante
Eu vacilo...
Quando não penetro no coração tão amado,
E estou sem entusiasmo e inconformada,
Querendo entender um momento sem lógica,
Negando a pujança que meus olhos veem
Ou olvidando a beleza inestimável do perdão
Eu vacilo...
Nos momentos de depressão e incerteza,
Sem conseguir sublimar a mágoa ou a dor,
Quando a luminosidade não consegue me atingir,
E uma névoa tolda meus olhos em sombras,
Impedindo o raciocínio claro e lúcido
Eu vacilo...
Quando observo a miséria e o sofrimento,
Os desprotegidos sem direito ao protesto,
Quando as injustiças de qualquer forma
Escurecem a terra viçosa e admirável
E quando sou impotente em qualquer solução
Eu vacilo...   

VAZIO...
Vânia Moreira Diniz

Contemplo a minha volta e nada vejo
Não enxergo,
Tudo parece um grande mistério e rezo,
Sem entender os segredos que preservo
E conservo dentro do meu coração tão vazio.

Não encontro ressonância e me distancio,
Não acho a real certeza e me afasto,
Não vejo a luz que direciona e me aparto,
Como se nada conhecesse e me arredo.

Sinto a leveza, tento pegar e não consigo,
Pressinto a bondade e me aproximo,
Não alcanço a sua extensão e choro,
E procuro o ideal que já não creio.

As cores não são do extenso universo,
As dores perduram e triste lamento,
A frieza que se esconde no retiro
De ilusões em que me escondo.

Não quero sentir a saudade do encontro,
Das lembranças ocultas atrás do muro,
Do sonho sempre e sempre revivido
E do passado que se foi no escuro.

Só a nostalgia perene eu vislumbro,
Sensação de terna loucura e vazio,
Efusões sepultadas no reencontro,
Coração para sempre machucado.

Ando, e me concentro,
Caminho,
O passo é lento,
Inseguro
E encontro o vazio.

BEIJO
Vânia Moreira Diniz

Supremo e magnífico gesto de amor,
Que é capaz de traduzir a simples virtude
Transbordando no desejo cheio de ardor.
Domínio absoluto do prazer em plenitude.

Envolve qualquer vibrante sentimento,
E o transmite com ênfase e docemente.
O corpo em chamas desfaz o tormento
Da louca espera difícil e permanente.

É o impulso natural, espontâneo e verdadeiro,
Tudo é esquecido nesse momento de emoção
Na integração de corpo e alma, sorrateiros.

Nada se compara ao beijo fruto da paixão
Que estremece em abalo os corações audazes.
E os leva a paragens que jamais foram capazes.
                                      
MAR ONIPOTENTE
Vânia Moreira Diniz

Mar de beleza tão onipotente,
Verde e lindo, amplo, majestoso,
Seu poder é sempre presente
E sua força intrépida, um colosso.

Mar que sempre forte me protegeu,
Nos momentos em que dele precisei
E muitas vezes meu coração careceu
De alento e por ele em urgência procurei.

Mar da minha terra, tão veemente,
Quisera estar sempre perto confortada
E tocar em suas águas simplesmente,
Sentindo eternamente a magia da vida. 

Mar infinito cuja força é suavidade,
Beleza e encanto na mesma proporção,
Tudo que possa revelar é só verdade,
E sua onipotência é natureza e razão.

As ondas brancas que se quebram,
Em harmonia exercendo seu fluxo
E brancas e espumosas se elevam,
Marcando da sua passagem o reflexo.

Mar amado ruidoso, terno e fascinante,
Misterioso, divino e permanente...
Com seu fulgor será sempre calmante
E no tempo te amarei eternamente.
                         
MISÉRIA
Vânia Moreira Diniz

Na madrugada fria e silenciosa,
Viajo em meu pensamento,
Entrevejo irmão com fome e frio,
A dureza dos dias sem perspectiva,
A tristeza de não saber o que ofertar,
O pequenino agitado pedindo comida.

Na madrugada fria eu me encolho,
Visualizando a dor do isolamento,
Do irmão tão longe e sofrendo,
Nem um afago, não conhece carinho,
O vento como açoite carregando,
A vida que ninguém sabe o que é.

Na madrugada longa eu visualizo,
Os bebês tão frágeis e pequeninos,
Os olhos que ainda nem se abriram,
A covardia de enfrentar sofrimentos,
Respiração entrecortada e difícil,
E a fome a lhe contrair os músculos.

Na madrugada o pensamento e emoção,
Juntos como a pedir misericórdia,
Pela miséria tão profunda e próxima,
De quem nem socorro conhece,
E o mundo se debatendo sem concórdia
A contemplar indiferente o espetáculo
Da morte pelo mais vil motivo.

Na madrugada eu nada enxergo,
Na dor eu devagar me transporto,
O aconchego parece uma blasfêmia,
E me encolho com esquisito Pânico
A refletir na dolorosa fome e frio,
De nossos irmãos companheiros
De estrada.

MONTANHAS E PLANÍCIES
Vânia Moreira Diniz

Na juventude amei
E com carinho reiterei,
Minha paixão pelas montanhas
Que altas e majestosas,
Impunham-se maravilhosas.

E as planícies tranquilas
 Eu não olhava...

Costumava na distância
Admirar,
Pasmar,
Pensar,
Nos mistérios
Indecifráveis
Das montanhas inescrutáveis.

E as planícies suaves
Eu nem via...

Sonhava galgar,
Escalar
E descortinar,
O mundo de bem alto,
Lá da montanha
Majestosa,
Suntuosa,
Em seu soberbo perfil,
Viril.

E as doces planícies
Eu esquecia...

Arquitetava quimeras
E devaneava
Distante,
Em pensamentos constantes,
Intrigantes
E chocantes.
Sempre
Nas montanhas,
Em suas entranhas.

E as planícies eu nem
Conhecia. Indiferente...

Mas o tempo passou,
Eu já não delineava
O pico elevado,
Tão ressaltado,
Que impressionara
Os dias passados.

Suas proporções gigantescas,
O olhar não conseguia alcançar,
E os sonhos não atingiam o lugar
Que tanto me fascinara,
Encantara
E amara.

Percebi, então, que existiam planícies.
Lindas, atraentes,
De beleza veemente,
Que inspiravam poesia e doçura.

Entendi que não conseguia enxergá-las,
Porque sempre olhava para o céu
E altiva,
Inacessível,
Impenetrável.
Não enxergava a terra
Só as serras...

E a planície, tão silenciosa,
Eu comecei a amar,
Gentis e amenas
Tolerantes
E rasteiras.

5 comentários:

  1. Vaninha o gesto do amigo Naldo para contigo creio ser o merecido retorno do quanto prezas este e tantos Escritores e Poetas, estimulando, divulgando, enaltencendo a todos com despretenciosa gentileza. Parabéns querida Poetisa pela repercusão, um abraço a ti e ao querido e talentoso Naldo . O Blog já conhecia à convite deste Poeta, valeu revisitar através de tua pessoa que tem meu apreço e admiração incondicional a mais de uma década.
    tua virgínia vica

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  2. Recebi seu convite,e aqui vim para aplaudir você Vania,grande Escritora ,
    ser Humano sem igual, e dar os cumprimentos ao seu amigo de tantos anos
    Naldo, que é também um Membro Efetivo de nossa AVSPE.

    parabéns
    EFIGENIA COUTINHO
    http://www.avspe.org/index.php

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  3. Recebi seu convite,e aqui vim para aplaudir você Vania,grande Escritora ,
    ser Humano sem igual, e dar os cumprimentos ao seu amigo de tantos anos
    Naldo, que é também um Membro Efetivo de nossa AVSPE.

    parabéns
    Efigênia Coutinho

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  4. Querida Vania,

    Meu dia começou alegre com a leitura de seus versos...Felicitando-a com carinho me rejubilio com sua conquista ,tendo seus versos publicados no blog de Naldo Velho. PARABÉNS!
    Que você continue colocando seus dons para alegrar as pessoas, criando um mundo de maior harmonia, justiça e paz.
    Espero que tudo esteja bem com você, Paulo e toda família e lhe desejo uma Quaresma, plena de graças e esperança.
    Graças a Deus estou bem e na 2ª feira retomo minhas atividades no coléigo, tendo descansado bem nas férias.
    Saudades e o abraço amgo da
    Mère Menino Jesus.
    ________________________________________

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  5. Vânia Diniz é uma grande poetisa. Parabéns a vocês!
    Nazareth Tunholi

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