JAZZ X BLUES
Uly Riber
Quero Dinah Washington
cantando.
Escutar qualquer coisa
com George Benson.
Quero a voz rouca de
Louis Armstrong em meus ouvidos,
como uma língua suave e
quente.
Quero dormir com Ella
Fitzgerald,
todas as minhas
solitárias noites.
Quero rolar na cama com
Duke Elligton,
sem o menor
preconceito.
Que Ray Charles cante
pra mim, antes de eu dormir.
Quero Count Basie a
qualquer hora do dia.
Quero John Lee Hooker
nas minhas horas de folga.
E Charlie Parker nos
intervalos.
Quero Little Richard
sempre que possível.
Na banheira, quero o
som de Elmore James.
E no quintal, quero
Billie Holiday.
Quero Diana Krall na
cozinha, preparando meu almoço.
Preciso me alimentar de
música.
TEMPO E CORAGEM
Uly Riber
Nasci para ser puta de
cabaret
Unhas vermelhas
Muito gim
Por falta de coragem,
virei fotógrafo
Nasci para ser dona de
bordel
Batom carmim
Pulseiras de ouro
Por falta de tempo,
virei poeta.
LÁGRIMAS
Uly Riber
Cada gota de lágrima
é uma gota de sangue
que alguém deixa cair.
Eu deixo !
Rasgo o lenço
e enxugo o sangue
do pranto do amor
calado.
SAMPA
Uly Riber
Cinzenta, quase sempre.
Barulhenta por demais.
Agitada todo o tempo.
Poluída ao extremo.
Ao cair da noite,
tudo muda..
O cinza se transforma
em cores.
O barulho vira música.
O agito aumenta.
A poluição se dispersa.
Ao cair da noite,
todas as tribos se
misturam.
Ao cair da noite,
todos os gatos,
são gatos.
ODEIO NEWTON
Uly Riber
Querendo ou não, já sou
um senhor.
Pôr mais que minha
cabeça seja ainda adolescente,
o corpo começa a dar
sinais de que a lei mais forte,
é a Lei da Gravidade.
Odeio Newton, detesto
Balsac.
Mas no fundo eles
diziam verdades.
Eu ainda minto um
pouco.
Quarenta e sete verões.
Mas, de verdade,
só consigo me lembrar
de uns vinte e cinco ou trinta.
Os outros, acho que se
perderam no tempo.
Em todos esses anos
colecionei amigos.
Verdadeiros (todos).
Sinceros (a maioria).
Honestos (nem todos).
Mas, amigos.
Uns dizem que sou
sarcástico.
Discordo.
Talvez, um pouco
cínico.
Mas um cinismo que não
agride.
Até diria, um cinismo
UP.
Outros dizem que sou
otimista.
Com certeza.
Acho que tudo vale a
pena.
Outros dizem que sou um
eterno sonhador.
Concordo plenamente.
Sonho com tudo.
Sonho até, com político
honesto.
Mas voltando ao
“senhor”.
O que é ser um senhor?
Talvez cabelos
grisalhos?
Rugas no canto dos
olhos?
Pele flácida?
E a mente?
Que papel faz nesta
tragédia doméstica?
A idade do homem não
está em nada disso.
Está sim, no que ele
sente.
No tesão latente.
Pulsante.
Quantos de 20 anos já
são senhores?
Quantos de 40 estão
entrando na puberdade?
Quantos de 50 nem
chegaram lá?
O chato de tudo isso é
a Lei da Gravidade.
Odeio Isaak Newton!
FOME
Uly Riber
Queria ter a boca da
noite,
Para poder mastigar o
mundo.
PÉ NA BUNDA
Uly Riber
Hoje é dia de pé na
bunda.
Lua minguante.
Amor minguado.
Virando caldo.
Ralo.
Hoje é dia de pé na
bunda.
Final de inverno.
Final de caso.
Recomeço da solidão.
Só.
Hoje é dia de pé na
bunda.
Mais uma primavera.
Nova temporada.
Novas trepadas.
A esmo.
Hoje é dia de pé na
bunda ???
Qual nada.
É recomeço.
E da vida.
É nova virada!
DESARVORE
Uly Riber
Desarvore menino.
Mas fique consciente.
Fique louco, louco
manso.
Não importa que seja,
ou que não seja.
Não importa que a porta
esteja aberta,
ou não.
Que tenha vida em
Marte,
ou que a morte esteja
perto,
ou não.
Desarvore menino.
E não ligue para o
desbunde.
Desbunde...
E não se grile se eu penso.
Se eu penso em mim,
ou em você.
Se grile com os grilos
que você cria,
na sua cama,
no seu quarto,
no seu travesseiro.
Mas não comigo...
Se grile com os
tic-tac de seu relógio,
toc-toc de seu sapato,
tac-tac de sua máquina.
Mas não comigo.
Ou se tiver a fim,
se grile cara.
Porque de um jeito ou
de outro,
eu continuo te amando.
CUIDADO
Uly Riber
( para Wagner Gonsalez)
Cuido de
meus cães, Afghans, sempre.
De meus amigos, sempre eternos.
De minha casa, onde quer que seja.
Cuido de
meus ternos, quando os tenho.
De meus quadros, sempre tortos nas
paredes.
De meus tapetes, nem sempre Persas.
Cuido de
minha Minolta, nem sempre como deveria.
De minhas pratarias, escurecidas
pelo tempo.
De minhas plantas, grande prazer.
Cuido de
meus CDs, não vivo sem música.
De meu trabalho, grande mentira.
De meus peixes, parindo sempre.
Cuido de
meus livros, que já não consigo ler.
De meu computador, que nem meu é.
De minhas fotos. Onde estão
mesmo?...
Cuido de
meu corpo, que cansaço...
De minha mente, como mente...
De meu sexo, nem sempre tão à
disposição.
Cuido de
minha voz, já ficando rouca de novo...
De minha pele, já enrugando.
De meus pés, já não segurando tanto
o peso.
Cuido de
meus pulmões, sufocados pelo cigarro,
De meu fígado, afogado pelo Gim.
De meu coração, pulsando de amor.
Cuido de
tudo que me cerca, nem sempre tão bem...
De tudo isso, você será sempre,
de quem eu cuido melhor.
LAMENTO
Uly Riber
Quero deixar um pouco
do meu “Eu” no papel,
Antes que o tempo me
apague.
É muito difícil para
mim,
coordenar o que tenho
na mente,
com a caneta que tenho
na mão.
Mas eu tento,
e lamento.
Lamento o tempo cedido,
os poemas não escritos,
o amor não correspondido,
os versos perdidos.
Lamento o beijo não
dado,
o amor abortado,
o sexo castrado,
a frase não dita.
Lamento o não recomeço,
o medo que sinto,
a confiança perdida,
o respeito que se foi.
Lamento o vazio
deixado,
a alma doída,
a raiva contida,
o corpo doado.
Lamento a minha
solidão,
a sua aparente solidez
o nada que restou,
a solidão de nós dois.
Lamento o meu lamento.
Perfeitas, amo todas elas, Lamento e Cuidado são novas e eu amei, adoro esse menino...Parabéns Uly Riber, mas não se esqueça que me prometeu um dueto, ainda espero por isso.
ResponderExcluirÓtimas poesias, gostei profundamente
ResponderExcluirVoltei para ver se havia espaço para comentá rio. Adorei a página e degustei cada poema. . Salve Uly! Viva Naldo!
ResponderExcluirE Que a poesia seja uma constante em nossa vida!
Belvedere
Um abraço meu lindo são lindo e muito profundo seus poemas !
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