terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

ULY RIBER


JAZZ X BLUES
Uly Riber

Quero Dinah Washington cantando.
Escutar qualquer coisa com George Benson.
Quero a voz rouca de Louis Armstrong em meus ouvidos,
como uma língua suave e quente.

Quero dormir com Ella Fitzgerald,
todas as minhas solitárias noites.
Quero rolar na cama com Duke Elligton,
sem o menor preconceito.

Que Ray Charles cante pra mim, antes de eu dormir.
Quero Count Basie a qualquer hora do dia.
Quero John Lee Hooker nas minhas horas de folga.
E Charlie Parker nos intervalos.

Quero Little Richard sempre que possível.
Na banheira, quero o som de Elmore James.
E no quintal, quero Billie Holiday.
Quero Diana Krall na cozinha, preparando meu almoço.

Preciso me alimentar de música.

TEMPO E CORAGEM
Uly Riber

Nasci para ser puta de cabaret
Unhas vermelhas
Muito gim
Por falta de coragem, virei fotógrafo

Nasci para ser dona de bordel
Batom carmim
Pulseiras de ouro
Por falta de tempo, virei poeta.

LÁGRIMAS
Uly Riber

Cada gota de lágrima
é uma gota de sangue
que alguém deixa cair.

Eu deixo !

Rasgo o lenço
e enxugo o sangue
do pranto do amor calado.

SAMPA
Uly Riber

Cinzenta, quase sempre.
Barulhenta por demais.
Agitada todo o tempo.
Poluída ao extremo.

Ao cair da noite,
tudo muda..

O cinza se transforma em cores.
O barulho vira música.
O agito aumenta.
A poluição se dispersa.


Ao cair da noite,
todas as tribos se misturam.

Ao cair da noite,
todos os gatos,
são gatos.

ODEIO NEWTON
Uly Riber

Querendo ou não, já sou um senhor.

Pôr mais que minha cabeça seja ainda adolescente,
o corpo começa a dar sinais de que a lei mais forte,
é a Lei da Gravidade.

Odeio Newton, detesto Balsac.
Mas no fundo eles diziam verdades.
Eu ainda minto um pouco.

Quarenta e sete verões.
Mas, de verdade,
só consigo me lembrar de uns vinte e cinco ou trinta.
Os outros, acho que se perderam no tempo.

Em todos esses anos colecionei amigos.
Verdadeiros (todos).
Sinceros (a maioria).
Honestos (nem todos).
Mas, amigos.

Uns dizem que sou sarcástico.
Discordo.
Talvez, um pouco cínico.
Mas um cinismo que não agride.
Até diria, um cinismo UP.

Outros dizem que sou otimista.
Com certeza.
Acho que tudo vale a pena.

Outros dizem que sou um eterno sonhador.
Concordo plenamente.
Sonho com tudo.
Sonho até, com político honesto.

Mas voltando ao “senhor”.
O que é ser um senhor?
Talvez cabelos grisalhos?
Rugas no canto dos olhos?
Pele flácida?
E a mente?
Que papel faz nesta tragédia doméstica?

A idade do homem não está em nada disso.
Está sim, no que ele sente.
No tesão latente.
Pulsante.
Quantos de 20 anos já são senhores?
Quantos de 40 estão entrando na puberdade?
Quantos de 50 nem chegaram lá?
O chato de tudo isso é a Lei da Gravidade.

Odeio Isaak Newton!

FOME
Uly Riber

Queria ter a boca da noite,
Para poder mastigar o mundo.

PÉ NA BUNDA
Uly Riber

Hoje é dia de pé na bunda.
Lua minguante.
Amor minguado.
Virando caldo.
Ralo.

Hoje é dia de pé na bunda.
Final de inverno.
Final de caso.
Recomeço da solidão.
Só.

Hoje é dia de pé na bunda.
Mais uma primavera.
Nova temporada.
Novas trepadas.
A esmo.

Hoje é dia de pé na bunda ???
Qual nada.
É recomeço.
E da vida.
É nova virada!

DESARVORE
Uly Riber

Desarvore menino.
Mas fique consciente.
Fique louco, louco manso.
Não importa que seja,
ou que não seja.
Não importa que a porta esteja aberta,
ou não.
Que tenha vida em Marte,
ou que a morte esteja perto,
ou não.
Desarvore menino.
E não ligue para o desbunde.
Desbunde...
E não se grile se eu penso.
Se eu penso em mim,
ou em você.
Se grile com os grilos que você cria,
na sua cama,
no seu quarto,
no seu travesseiro.
Mas não comigo...
Se grile com os
tic-tac de seu relógio,
toc-toc de seu sapato,
tac-tac de sua máquina.
Mas não comigo.
Ou se tiver a fim,
se grile cara.
Porque de um jeito ou de outro,
eu continuo te amando.


CUIDADO
Uly Riber
        ( para Wagner Gonsalez)

Cuido de meus cães, Afghans, sempre.
           De meus amigos,  sempre eternos.
           De minha casa,  onde quer que seja.

Cuido de meus ternos, quando os tenho.
           De meus quadros, sempre tortos nas paredes.
           De meus tapetes, nem sempre Persas.

Cuido de minha Minolta, nem sempre como deveria.
           De minhas pratarias, escurecidas pelo tempo.
           De minhas plantas, grande prazer.
  
Cuido de meus CDs, não vivo sem música.
           De meu trabalho, grande mentira.
           De meus peixes, parindo sempre.

Cuido de meus livros, que já não consigo ler.
           De meu computador, que nem meu é.
           De minhas fotos. Onde estão mesmo?...

Cuido de meu corpo, que cansaço...
           De minha mente, como mente...
           De meu sexo, nem sempre tão à disposição.

Cuido de minha voz, já ficando rouca de novo...
           De minha pele, já enrugando.
           De meus pés, já não segurando tanto o peso.

Cuido de meus pulmões, sufocados pelo cigarro,
          De meu fígado, afogado pelo Gim.
          De meu coração, pulsando de amor.

Cuido de tudo que me cerca, nem sempre tão bem...
           De tudo isso, você será  sempre,
          de quem eu cuido melhor.


LAMENTO
Uly Riber

Quero deixar um pouco do meu “Eu” no papel,
Antes que o tempo me apague.
É muito difícil para mim,
coordenar o que tenho na mente,
com a caneta que tenho na mão.
Mas eu tento,
e lamento.

Lamento o tempo cedido,
              os poemas não escritos,
             o amor não correspondido,
             os versos perdidos.

Lamento o beijo não dado,
              o amor abortado,
              o sexo castrado,
              a frase não dita.

Lamento o não recomeço,
              o medo que sinto,
              a confiança perdida,
              o respeito que se foi.

Lamento o vazio deixado,
              a alma doída,
              a raiva contida,
              o corpo doado.

Lamento a minha solidão,
              a sua aparente solidez
              o nada que restou,
              a solidão de nós dois.

Lamento o meu lamento.

4 comentários:

  1. Perfeitas, amo todas elas, Lamento e Cuidado são novas e eu amei, adoro esse menino...Parabéns Uly Riber, mas não se esqueça que me prometeu um dueto, ainda espero por isso.

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  2. Voltei para ver se havia espaço para comentá rio. Adorei a página e degustei cada poema. . Salve Uly! Viva Naldo!
    E Que a poesia seja uma constante em nossa vida!
    Belvedere

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  3. Um abraço meu lindo são lindo e muito profundo seus poemas !

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