Mozart
Carvalho
Professor
de Língua Portuguesa/Produção
Textual/Literatura/Inglês/Literaturas Americana
e Inglesa. Especialista em Língua Latina. Membro do Grupo de Estudo de Línguas
Clássicas e Orientais (LECO)/UERJ. Poeta carioca, ensaísta, ilustrador,
tradutor. Atual vice-presidente da APPERJ. Membro do PEN Clube do Brasil, da
UBE/RJ e da ACLAL (Portugal). Membro do Conselho Editorial da OFICINA Editores.
Publicou dois livros infantis: O Cervo e o Lago e A Raposa e a Cegonha, sendo
este roteirizado para teatro. No
prelo: peloavesso (poesia). Em 2011, a convite do Nassau Community College/New
York State University, esteve em New York/USA, onde proferiu palestra sobre
“Construction, Work and Poetry” & “APPERJ in the Modern Literary Process”. Apresentou a
performance de poesia interativa UrbanosEmCausa, junto ao poeta Sérgio Gerônimo
a convite do Brazilian Endowent for the Arts New York/USA, também, em Viena, a
convite do PEN Club da Áustria lançou UrbanosEmCausa o livro e performance. Tem
poemas publicados e vertidos em inglês, espanhol, francês. Participante ativo
do circuito de poesia contemporânea.
OUTONOS
Mozart
Carvalho
as letras
brincam.
o papel
amarelado
revigora-se.
meu tempo
vai. uma
pequena
história
aqui, um lápis
ali. o
espaço é tempo
escrito
no infinito. as
mãos
enrugadas, as
unhas
encardidas... um
homem
jovem
envelhece
em mim.
a janela
soprou fria
sobre a
neve azul.
não vejo
mais solitárias
manhãs. o
mundo
preenche
surpresas.
semeia
inesperados
frutos.
os galhos são
troncos
de folhas
sempre
verdes. todas
resgatam
os meus outonos.
o sorriso
criança baila
em um
balanço vazio.
um
suspiro de olhos
cerrados.
um começo
para o
meu terno fim.
RENASCER
Mozart
Carvalho
são as
horas
que
tiquetaqueiam as manhãs
o tempo
voa
como ave
de rapina
implacáveis
nas
verdes campinas
ventos
brandos
sopram
friamente sobre o peito.
na
soleira
o hálito
fúlgido do sol
dobram e
quebram-se como vidro
areia
revolta
no fundo
das águas
explodem
nos poros
um
susto...
um
bem-vindo surdo
silenciando
fortes trancas e ferrolhos
os olhos
mágicos
são cegos
tudo é
tão frágil
rígidos
dormentes
espraiam-se
em pó
nada
sustenta mais a solidão
o corpo
relaxa
nas
curvas das costas do ancião
a madeira
da cadeira de balanço
permanece
ziguezagueando
sob os
pés da mesa
a casa...
o velho
corpo
e os
sinos dobram
no
equilíbrio das ondas do tempo
comemorando
solitariamente
o
renascer...
SENSIBILIDADE
Mozart
Carvalho
sabe.
muitas
vezes estava do seu lado
mas não
me via
muitas
vezes senti seu perfume
na beira
de minha cama
e sorria.
nunca
estive tão certo
de sua
presença
quando
percebia
sua
ausência
hoje
cresci
vi seus
brancos cabelos
misturarem
aos meus
seus
traços fortes
enrugarem
no meu rosto
somos tão
iguais
nas lutas
nos
desejos solitários
nas
ilusões infantis
nas mãos
que nunca nos afagaram
sabe.
são
áridas de indiferenças
nos
individualizamos
precipitamos
o afastamento
para
promover um único encontro
a morte
e assim
seremos
o que
sempre fomos
nada
um para o
outro.
AINDA
Mozart
Carvalho
o sono
atravessa o sonho
num sutil
movimento
vontades
– pontes na imaginação
ruínas
infinitas
prelúdio
de imagens – unção
como
construir a vida
unindo na
amarga argamassa
cacos,
fracassos, desejos (?)
nem que
seja
ainda
NU
Mozart
Carvalho
nu
repouso
um tempo
dividido
os traços
calmos do artista
ao redor
de seu corpo
seja
somente a linha
que vele
a parte
com arte
o meu
sonho
nu
repouso
em um
tempo
avulso
nos
braços calmos
do
artista
ao
enlaçar o corpo
que
somente a linha
seja
e esconda
a parte
com arte
do sonho
MUNDO-CÃO
Mozart
Carvalho
ao fazer
girar a fechadura
minha mão
cálida de surpresa
faz
voltar o tempo – o fim
a fera
que elimina o futuro
observa o
eterno e simples
concede a
estampa do momento
que,
também, observa a memória
a cor
finita das estações
cujo
passo ignoro
perpetua
a certeza do que vejo
um
desejo, sempre, de estar à frente
esse muro
criado na fantasia
o fim do
mundo é alegoria
de
convexas grades e palacetes internos
nem o
inferno, nem o céu reconhecem
nossos
dias seguirão
para
qualquer pesadelo ou profecia
das
noites ou dias
sóis e
luas sucessivamente despertarão
morrendo
e nascendo
em nosso
mundo-cão
CALABOUÇO
Mozart
Carvalho
a vasta
noite
alonga-se
por rasas
horas
a seringa
pronta na
reta
a agulha
na ponta
é alvo
envenenado
tudo já
fugiu
as almas
escorrem
nos
calabouço das auroras
sonhos
que esqueci
calam as
cordas
os sons
dedilham
no fio
o limite
que alucina
as
lembranças que sãs;
as
lâminas que suturam
devoram a
carne engelhada
o deserto
ensurdece
o
desespero
ociosa
espada
lanceia
vísceras
batalhas
travadas
odioso
recomeço
o homem
cai
a mulher
perece
a criança
aspira
as garras
crescem
sob a lua
maldita
somos
envenenados
de fatos,
sombras e medos
o ocaso
─ abreviado pelas horas
amaldiçoa
─ o nosso próprio fim.
ARROUBOS
Mozart
Carvalho
por vezes
Eric
Satie invade meus sentidos
divago
sobre os acordes
notas de
cada melodia
cruzam,
abusam
- morte
e depois
ressuscitam
rusticamente
das
minhas entranhas
a música
sobrevive o presente
uma abdução
passageira
retalho-me
em paisagens
não
existe um lugar
a dor é
silenciosa
incapaz
de capacitar à cura
devoro-me
delicadamente
enredando
em um novelo de lã
tomo a
agulha
a linha
costuro
tramas interiores
nós
apertados desfazem-se
rompem-se
portas
o som
invade o quarto
expulsa
lentamente
os
bárbaros,
solitários
arroubos
um surto
generoso
a
sustenta o dizer
a minha
loucura de estar
aqui sem
mim.
PELO
AVESSO
Mozart
Carvalho
o jogo
falso
das
línguas-tempestades
estremece
a face
eriçado o
pelo
repulsa
avesso
aos ares
gélidos,
nórdicos
pálidos
de lucidez
embustes
o que
sustém
perde-se
nas vias
narinas
sem fôlego
a sede
seca
o couro
rígido
a pele -
pele fria
tece a
trama
revestimento
perfeito
para todo
malfeito
os cílios
se sacodem
num
frenético piscar
procuram
um e outro
solitário
- quem sabe?
ainda
resta rastejar...
é casca
tênue
de cobra
vil
nos tatos
vácuos
............................
dentro de
si
o mesmo
covil
a
impulsionar.
AMANTES
Mozart
Carvalho
Sei que a
vida ilumina
alguns
amores e futuros...
recuo –me
ao ninho
preenchendo
de carinho
foi assim
tua presença:
meu olhar
sozinho
o alvo, o
desejo, o prazer
sempre
companheiros...
mas tu,
amado, dispões
da urna
sobre o sol e mar
um
retorno silencioso
ao
nascer, viver, morrer.
A saciedade veste meu espírito quando mergulho em tua poesia...Moazart Carvalho.
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