AS PEDRAS
DAQUELE LUGAR
KATIA
PINO
Amo,
inexplicavelmente,
as pedras
desse lugar.
Testemunhas
silenciosas
de tantas
histórias vividas.
O que
nelas me atrai,
não
consigo definir.
Talvez
seja a solidez
das
formas inusitadas,
moldadas
por séculos
de confissões
ditas
ao vento.
Gosto de
me achar
responsável
por elas,
zelando
pela imortalidade
de suas
mensagens que,
jazem,
eternamente,
em suas
moléculas.
Amo as
pedras dessa ilha,
com um
amor incomum,
um amor
ancestral,
de dores
e dissabores adormecidos,
nas
noites arquetípicas,
perdidas,
no inconsciente da alma.
AS
APARÊNCIAS ENGANAM
KATIA
PINO
Quem o
olha assim,
com esse
jeito displicente,
não faz
ideia do que se revela
quando, à
noite, entre quatro paredes,
mostramos,
sem receios,
a nossa
face mais vadia.
Sem
medos, sem escrúpulos,
deixamos
no nosso quadrilátero,
as
marcas, os cheiros,
os ruídos
entranhados.
Não temos
medidas ou reservas;
para você
me abro inteira.
Literalmente
vejo sua alma,
quando,
no gozo final,
seu olhar
encontra o meu
e, logo
após, se perde no infinito,
dissolvendo-se
com o Universo.
Num breve
instante,
quase
imperceptível...
O Eterno.
Quem se
prende à aparência,
não
consegue perceber, desvendar;
não
desfruta dos segredos, das surpresas!
Quem se
prende à aparência,
deixa de
ser descobridor;
deixa de
ser!
DESCOBERTAS
KATIA
PINO
Pessoas
são complicadas;
de coisas
simples fazem tempestade.
Há tesão,
atração,
“lance”
de pele.
E, então,
mergulham fundo, “de cabeça”.
Daí a
coisa muda, por causas coerentemente naturais.
O tesão
fica mais forte,
a atração
vira carinho, compreensão.
O que era
pele,
agora
toma tudo: músculos, ossos, circulação.
Aí
assusta...
A palavra
fica no ar;
o gesto,
suspenso.
É mais
fácil ir pra cama, ter orgasmo.
Fugir,
pelo êxtase, daquilo difícil de dizer.
INSÔNIA
KATIA
PINO
Ah!
Quantas
noites acordadas
tenho
passado,
mudas e
frias
como
mármore!
Olho no
espelho,
vejo um
corpo,
meu
corpo...
nu e
vazio!
Minhas
mãos tentam,
em vão,
superar
tua falta!
Vou à
janela.
A noite
parada
assusta-me:
ânsia de
morte!
Fico
aqui,
nos
lembrando nus!
Essas
quatro paredes já abrigaram
a
infinitude.
Agora
lembram
um
túmulo;
enterrando
minha
teimosa
solidão!
Levanto,
sento,
Ando, sento.
Sento.
Deito.
Deito!
Deitei,
deitamos,
Quantas
vezes!
Tinha teu
corpo
como
abrigo;
tua boca
como
lenha;
tuas mãos
como
fogueira!
É o
quarto cigarro
que
fumo...
Que horas
são?
Ainda,
perco o siso das horas,
mas não
mais por ti.
É esse
nada a fazer
que me
perturba.
Fico
sentada,
quieta,
muda!
Lembro de
tudo
que me
fazia viver.
Lembro de
mim e de ti,
quando
fazíamos amor!
A OBRA
ESPELHADA
KATIA
PINO
Vejo-me
refletida,
bruscamente,
em seu
trabalho.
O
espelho,
solução
para
um
problema,
revela,
em sua
face,
nosso
maior inimigo.
Cruamente
arranca
nossa
máscara e,
nos
confronta,
com nossa
face mais temível:
a SOMBRA,
abrigo do
nosso pior e,
artífice
desse produto.
Então,
eu e seu
fruto,
viramos
UNO.
Pensador?
Admirador?
O nome,
pouco
importa.
O valor
está
na
essência
das
obras, humana e de Deus,
integradas
no reflexo
do surto
criativo.
DESEJO
KATIA
PINO
Na ânsia
do desejo,
vaguei
por entre leitos incertos.
Provei
sabores diferentes,
corpos
ardentes e,
outros,
nem tanto.
Na ânsia
do desejo,
fui de
muitos.
Mas,
nunca me dei,
verdadeiramente.
Usei-os.
Como eles
a mim.
De forma
consciente, no entanto.
Na ânsia
do desejo,
tentei
esquecer
aquele a
quem neguei
o amor, o
sorriso...
a
cumplicidade da vida.
Aquele de
quem,
vi o
pranto correr.
Na ânsia
do desejo,
me
dissolvi
nos
fluidos, desperdiçados
no gozo
passageiro.
Buscando
encontrar
a quem,
verdadeiramente,
amei,
entretanto.
Estranho
o desejo,
armadilha
do ego.
Desejar,
satisfazer,
querer,
cada vez mais.
Círculo
que nos prende,
no
gostoso vício do sexo.
Que nos
arrasta
para
longe de nós mesmos e,
nos
afasta
daquele a
quem,
realmente,
vale a
pena a entrega.
O
CENTAURO E A FÊMEA
KATIA
PINO
Viajei,
essa noite,
no dorso
de um centauro.
Num rapto
consentido,
qual
Sabina tresloucada.
Que
menina não anseia,
se deixar
levar,
sem
fronteiras,
por seus
instintos
mais
secretos?
Homem ou
mulher,
não
importa.
A
centelha não vê gêneros,
quando
encarna no Ego e,
se faz
sangue palpitante
de
libido.
Nua, me
deitei em seu corpo
macio e
brilhante
comandado
pelo dorso do homem.
Absorvi,
pelos poros,
o
borbulhar do seu desejo.
No
galope,
clone do
sexo,
sucumbi à
entrega,
me
deixando levar
pelos
recantos secretos da Mãe Terra.
Lugares
mágicos
da Deusa
resgatando
a
ancestralidade da Fêmea.
Integrando
a Mulher,
a Mãe,
a Filha,
a Irmã,
numa só.
Gênero.
Único.
Universal.
E, na luz
da lua,
os
limites da pele,
se
esvaeceram.
Tornamo-nos
uno.
Criei
asas,
virei
Pégaso.
Alma
pura,
ganhei
céus.
Virei
divina.
Segui, em
vida, no ar,
terrena e
celestial.
Como
todos.
Todos
nós.
Humanos.
PROVOCAÇÃO
KATIA
PINO
Não
acredite quando te miro
com um
olhar oblíquo,
igual ao
de Capitu,
como se
fora de ressaca...
O faço
apenas para te seduzir.
Não me
leve a sério,
quando
meus lábios esboçam
um
sorriso-canto-de-boca,
levemente
mordiscado,
quase
invisível,
para
manter imaculada
a Persona
que inventei...
O faço
apenas para te provocar.
Não
queiras que eu te faça juras,
me roce
em ti,
te beije
a face,
role
contigo...
O meu
calor tu jamais sentirás.
Muito
embora
sinta o
teu desejo
chegando
em ondas,
por mim
podes querer,
arder,
desejar.
Mas,
NUNCA, em tempo algum,
irás do
meu néctar provar.
DAS
ENTRANHAS
KATIA
PINO
Das
entranhas gerei você,
meu
filho.
Numa
noite quase mágica,
tão
esperada,
onde dois
corpos tanto se deram,
brotou um
fruto abençoado,
imantado
de amor,
de
corações puros e
pensamentos
positivos.
Brotou
você!
Carreguei-o
em meu ventre,
com os
mutáveis sabores da geração.
Alimentei-o
de sangue,
seiva de
minha própria vida.
No parto,
rasguei o meu corpo,
para
parir entre ondas
de
estranha felicidade.
As dores,
não as nego!
Mas elas
não foram por você.
Surgiram
das escolhas que fiz.
A hora
certa
o trouxe
para mim.
Daí
evoluí,
amadureci.
TUDO
mudou!
Nesse
privilégio único
que, só
as mães possuem,
acompanhei
seu crescer
em todas
as nuances.
Hoje,
o vejo um
homem,
aos
quinze,
(re)
nascendo para o mundo.
Indo
embora, aos poucos.
E, sinto
que minha tarefa
com você
se finda.
Aguardo
somente a sua ida
para
participar, por fim,
do ciclo
infindo
do
despertar de outras sementes.
Daí,
poderei dizer:
missão
cumprida!
Mas, a
sua,
só
começa...
O QUE ME
MOVE?
KATIA
PINO
O que me
move
é a
vaidade
que
condeno,
o orgulho
que
aponto?
Ou será
justiça
que
procuro?
Transparência...
Nas
palavras,
gestos,
sentimentos.
É o que
proponho.
As
máscaras
que
usamos, escondem
o lado
angélico
do homem.
Títulos,
patentes,
instituições.
Nada
disso
levamos
para
o outro
lado.
O
permanente no Universo,
são as
sementes
que
plantamos
nos
corações,
nas
mentes.
São os valores
irradiados,
com os
cargos que ocupamos,
com as
patentes que alcançamos.
São os
frutos que daí brotaram.
Assim
como o corpo,
a
instituição apodrece.
O perene
é o material
que
usamos
na
construção:
amor ou
ódio;
vaidade
ou humildade;
competição
ou cooperação.
Essas são
as obras
Que se
eternizam nas gerações e,
que
plasmam nosso futuro
pessoal e
coletivo.
KATIA PINO – psicóloga, professora de
Psicologia e escritora. Dois livros publicados: LILI, A ESTRELA DO MAR
(infantil, 2007, 1º lugar do Prêmio Adolfo Aizen 2008 da UBE/RJ e do Título
Melhores de 2010 do Congresso da Sociedade de Cultura Latina , Seção Brasil, na
Categoria Livro Infanto-Juvenil pelos relevantes serviços sociais, educacionais
e culturais prestados ao Brasil) e SOU MULHER (2009, crônicas e poesias).
Escritora premiada: Menção Honrosa no 12º Prêmio Missões de Roque Gonzáles em
2009, pelo conto: Um sonho do futuro. E 2º lugar no Prêmio SESC (Distrito
Federal) de Contos Infantis Monteiro Lobato Edição 2010, com o conto: O
mistério do pote de biscoito. Membro da APPERJ, AEI-LIJ e Membro Fundador da
Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá, onde atualmente é
Diretor Tesoureiro.
Caro amigo poeta Naldo: muito obrigada por lembrar-se de mim. Agradeço o carinho. Grande abraço.
ResponderExcluirEste Blog está lindo! Lindos poemas, maravilhosos poetas, amigos da nossa labuta poética, diária e insana. Parabéns Kátia e Naldo!
ResponderExcluirEurídice Hespanhol
Obrigada, Eurídice, grande artífice das letras, assim como Naldo.
ExcluirParabéns Kátia e Naldo por nos ofertar mais esse espaço. vera.
ResponderExcluirObrigada, Vera. Grande abraço.
ResponderExcluir