domingo, 3 de fevereiro de 2013

KATIA PINO


AS PEDRAS DAQUELE LUGAR
KATIA PINO

Amo, inexplicavelmente,
as pedras desse lugar.
Testemunhas silenciosas
de tantas histórias vividas.

O que nelas me atrai,
não consigo definir.
Talvez seja a solidez
das formas inusitadas,
moldadas por séculos
de confissões ditas
ao vento.

Gosto de me achar
responsável por elas,
zelando pela imortalidade
de suas mensagens que,
jazem, eternamente,
em suas moléculas.

Amo as pedras dessa ilha,
com um amor incomum,
um amor ancestral,
de dores e dissabores adormecidos,
nas noites arquetípicas,
perdidas, no inconsciente da alma.
  
AS APARÊNCIAS ENGANAM
KATIA PINO                                         
               
Quem o olha assim,
com esse jeito displicente,
não faz ideia do que se revela
quando, à noite, entre quatro paredes,
mostramos, sem receios,
a nossa face mais vadia.
Sem medos, sem escrúpulos,
deixamos no nosso quadrilátero,
as marcas, os cheiros,
os ruídos entranhados.

Não temos medidas ou reservas;
para você me abro inteira.
Literalmente vejo sua alma,
quando, no gozo final,
seu olhar encontra o meu
e, logo após, se perde no infinito,
dissolvendo-se com o Universo.
Num breve instante,
quase imperceptível...
O Eterno.

Quem se prende à aparência,
não consegue perceber, desvendar;
não desfruta dos segredos, das surpresas!
Quem se prende à aparência,
deixa de ser descobridor;
deixa de ser!

DESCOBERTAS
KATIA PINO                                         
                                              
Pessoas são complicadas;
de coisas simples fazem tempestade.
Há tesão,
atração,
“lance” de pele.
E, então, mergulham fundo, “de cabeça”.
Daí a coisa muda, por causas coerentemente naturais.
O tesão fica mais forte,
a atração vira carinho, compreensão.
O que era pele,
agora toma tudo: músculos, ossos, circulação.
Aí assusta...
A palavra fica no ar;
o gesto, suspenso.
É mais fácil ir pra cama, ter orgasmo.
Fugir, pelo êxtase, daquilo difícil de dizer.

INSÔNIA
KATIA PINO

Ah!
Quantas noites acordadas
tenho passado,
mudas e frias
como mármore!

Olho no espelho,
vejo um corpo,
meu corpo...
nu e vazio!
Minhas mãos tentam,
em vão,
superar tua falta!

Vou à janela.
A noite parada
assusta-me:
ânsia de morte!
Fico aqui,
nos lembrando nus!

Essas quatro paredes já abrigaram
a infinitude.
Agora lembram
um túmulo;
enterrando minha
teimosa solidão!

Levanto, sento,
Ando, sento.
Sento. Deito.
Deito! Deitei,
deitamos,
Quantas vezes!
Tinha teu corpo
como abrigo;
tua boca
como lenha;
tuas mãos
como fogueira!

É o quarto cigarro
que fumo...
Que horas são?
Ainda, perco o siso das horas,
mas não mais por ti.

É esse nada a fazer
que me perturba.
Fico sentada,
quieta, muda!
Lembro de tudo
que me fazia viver.
Lembro de mim e de ti,
quando fazíamos amor!

A OBRA ESPELHADA
KATIA PINO

Vejo-me
refletida,
bruscamente,
em seu trabalho.

O espelho,
solução para
um problema,
revela,
em sua face,
nosso maior inimigo.

Cruamente
arranca
nossa máscara e,
nos confronta,
com nossa face mais temível:
a SOMBRA,
abrigo do nosso pior e,
artífice desse produto.

Então,
eu e seu fruto,
viramos UNO.
Pensador?
Admirador?
O nome,
pouco importa.
O valor está
na essência
das obras, humana e de Deus,
integradas no reflexo
do surto criativo.

DESEJO
KATIA PINO

Na ânsia do desejo,
vaguei por entre leitos incertos.
Provei sabores diferentes,
corpos ardentes e,
outros, nem tanto.

Na ânsia do desejo,
fui de muitos.
Mas, nunca me dei,
verdadeiramente.
Usei-os.
Como eles a mim.
De forma consciente, no entanto.

Na ânsia do desejo,
tentei esquecer
aquele a quem neguei
o amor, o sorriso...
a cumplicidade da vida.
Aquele de quem,
vi o pranto correr.

Na ânsia do desejo,
me dissolvi
nos fluidos, desperdiçados
no gozo passageiro.
Buscando encontrar
a quem, verdadeiramente,
amei, entretanto.

Estranho o desejo,
armadilha do ego.
Desejar, satisfazer,
querer, cada vez mais.
Círculo que nos prende,
no gostoso vício do sexo.
Que nos arrasta
para longe de nós mesmos e,
nos afasta
daquele a quem,
realmente,
vale a pena a entrega.

O CENTAURO E A FÊMEA
KATIA PINO

Viajei, essa noite,
no dorso de um centauro.
Num rapto consentido,
qual Sabina tresloucada.

Que menina não anseia,
se deixar levar,
sem fronteiras,
por seus instintos
mais secretos?

Homem ou mulher,
não importa.
A centelha não vê gêneros,
quando encarna no Ego e,
se faz sangue palpitante
de libido.

Nua, me deitei em seu corpo
macio e brilhante
comandado pelo dorso do homem.
Absorvi, pelos poros,
o borbulhar do seu desejo.
No galope,
clone do sexo,
sucumbi à entrega,
me deixando levar
pelos recantos secretos da Mãe Terra.
Lugares mágicos
da Deusa resgatando
a ancestralidade da Fêmea.
Integrando
a Mulher,
a Mãe,
a Filha,
a Irmã,
numa só.
Gênero.
Único.
Universal.

E, na luz da lua,
os limites da pele,
se esvaeceram.
Tornamo-nos uno.
Criei asas,
virei Pégaso.
Alma pura,
ganhei céus.
Virei divina.

Segui, em vida, no ar,
terrena e celestial.
Como todos.
Todos nós.
Humanos.

PROVOCAÇÃO
KATIA PINO

Não acredite quando te miro
com um olhar oblíquo,
igual ao de Capitu,
como se fora de ressaca...

O faço apenas para te seduzir.

Não me leve a sério,
quando meus lábios esboçam
um sorriso-canto-de-boca,
levemente mordiscado,
quase invisível,
para manter imaculada
a Persona que inventei...

O faço apenas para te provocar.

Não queiras que eu te faça juras,
me roce em ti,
te beije a face,
role contigo...

O meu calor tu jamais sentirás.

Muito embora
sinta o teu desejo
chegando em ondas,
por mim podes querer,
arder, desejar.
Mas, NUNCA, em tempo algum,
irás do meu néctar provar.

DAS ENTRANHAS
KATIA PINO

Das entranhas gerei você,
meu filho.
Numa noite quase mágica,
tão esperada,
onde dois corpos tanto se deram,
brotou um fruto abençoado,
imantado de amor,
de corações puros e
pensamentos positivos.

Brotou você!

Carreguei-o em meu ventre,
com os mutáveis sabores da geração.
Alimentei-o de sangue,
seiva de minha própria vida.
No parto, rasguei o meu corpo,
para parir entre ondas
de estranha felicidade.
As dores, não as nego!
Mas elas não foram por você.
Surgiram das escolhas que fiz.

A hora certa
o trouxe para mim.

Daí evoluí,
amadureci.
TUDO mudou!

Nesse privilégio único
que, só as mães possuem,
acompanhei seu crescer
em todas as nuances.

Hoje,
o vejo um homem,
aos quinze,
(re) nascendo para o mundo.
Indo embora, aos poucos.
E, sinto que minha tarefa
com você se finda.

Aguardo somente a sua ida
para participar, por fim,
do ciclo infindo
do despertar de outras sementes.

Daí, poderei dizer:
missão cumprida!
Mas, a sua,
só começa...

O QUE ME MOVE?
KATIA PINO

O que me move
é a vaidade
que condeno,
o orgulho
que aponto?
Ou será justiça
que procuro?

Transparência...
Nas palavras,
gestos,
sentimentos.
É o que proponho.

As máscaras
que usamos, escondem
o lado angélico
do homem.

Títulos,
patentes,
instituições.
Nada disso
levamos para
o outro lado.
O permanente no Universo,
são as sementes
que plantamos
nos corações,
nas mentes.
São os valores irradiados,
com os cargos que ocupamos,
com as patentes que alcançamos.
São os frutos que daí brotaram.

Assim como o corpo,
a instituição apodrece.
O perene é o material
que usamos
na construção:
amor ou ódio;
vaidade ou humildade;
competição ou cooperação.
Essas são as obras
Que se eternizam nas gerações e,
que plasmam nosso futuro
pessoal e coletivo.


KATIA PINO – psicóloga, professora de Psicologia e escritora. Dois livros publicados: LILI, A ESTRELA DO MAR (infantil, 2007, 1º lugar do Prêmio Adolfo Aizen 2008 da UBE/RJ e do Título Melhores de 2010 do Congresso da Sociedade de Cultura Latina , Seção Brasil, na Categoria Livro Infanto-Juvenil pelos relevantes serviços sociais, educacionais e culturais prestados ao Brasil) e SOU MULHER (2009, crônicas e poesias). Escritora premiada: Menção Honrosa no 12º Prêmio Missões de Roque Gonzáles em 2009, pelo conto: Um sonho do futuro. E 2º lugar no Prêmio SESC (Distrito Federal) de Contos Infantis Monteiro Lobato Edição 2010, com o conto: O mistério do pote de biscoito. Membro da APPERJ, AEI-LIJ e Membro Fundador da Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá, onde atualmente é Diretor Tesoureiro.

5 comentários:

  1. Caro amigo poeta Naldo: muito obrigada por lembrar-se de mim. Agradeço o carinho. Grande abraço.

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  2. Este Blog está lindo! Lindos poemas, maravilhosos poetas, amigos da nossa labuta poética, diária e insana. Parabéns Kátia e Naldo!
    Eurídice Hespanhol

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    1. Obrigada, Eurídice, grande artífice das letras, assim como Naldo.

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  3. Parabéns Kátia e Naldo por nos ofertar mais esse espaço. vera.

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