DESEJO
Teresa Mello
Existe um
ser dentro de mim
Que quer
se libertar
Não sei
se é um louco
Ou uma
criança...
Não sei
se é um animal
Ou um
extra-terrestre
Não sei
se é uma flor
Ou uma
erva daninha
Não sei
se é um livro
Ou uma
música
Só sei
que ele está
A me
arranhar por dentro
De uma
forma calma, sem violência
Deixando
que a natureza
Flua de
forma
Mais
passiva e natural
Possível
Corrói,
rói,
Sai, não
sai...
Mas que
faz cócegas,
Ah, isso
faz.!!!
DESENTORTA
CORAÇÃO
Teresa Mello
Desentorta,
coração!
Algumas
vezes preciso de você
Mais
careta e comportado...
Tudo em
volta
Tão bem
delineado
A vida em
estampas
Nas
camisas das boas pessoas...
Desentorta
logo
Pra eu
poder entender
A vida
como ela não é.
Depois eu
deixo você
Se
retorcer e virar
Um quadro
de Dali.
DOIS
LADOS
Teresa
Mello
De um
lado
Zango
Do outro
Rio
O direito
imposto
Me faz
escolhas
O
esquerdo inibido
Chora e
se acua
Um tem
medo
Outro
paixão
Medo da
vida
Paixão
pelo indizível
Duas
metades
Que
juntas
Se
transformam
Nessa
irreverência
Que sou
eu
Mas
também nessa flexibilidade
De poder
circular
Pelos
dois lados
Na hora
que me apetecer
De um
lado (dizem)
Sou louca
Do outro
sou normal
Sou isso
tudo e nada
Sou nada
e isso tudo
De um
lado transformo
O outro
no meu verso
No meu
dizer...
Sou a
mulher,
A dona
disso tudo
E do lado
que eu quiser aparecer
MEUS AMIGOS
Teresa Mello
Às vezes tenho a sensação de que meus amigos são
teclas de marfim de um piano que me oferece a possibilidade das mais variadas
harmonias. Cada um tem seu som e timbre especiais. Meus ouvidos e minha alma se
deixam embalar por acordes suaves. Algumas vezes estremeço com o reconhecimento
de canções que andavam adormecidas em mim. Outras vezes viajo em sons
dissonantes, estrangeiros e descubro rachaduras em compartimentos descuidados e
abandonados. Certos fraseados me deliciam no descontrole das gargalhadas. Viro
criança e saio dançando com o vento e o sol. Silencio meus barulhos internos
pra estar inteira com o meu piano. Predadores já tentaram roubar algum marfim.
Isso doeu muito na minha alma. Com algum trabalho artesanal, delicado, sutil,
consegui tecer o talento de reparar tecla por tecla. E resolvi usar uma chave
mágica que tranca e destranca quando meu desejo assim o quer. Meus dedos
passeiam num bailado singular. Meus amigos criam bemóis, sustenidos e revelam
sentidos que legitimam a minha música. Adoro meu piano. Adoro meus amigos
DESASSOSSEGO
Teresa
Mello
Não quero
me entupir
De
soluções
Não quero
a certeza
Dos
sensatos
Nem a
hipocrisia
Dos
corretos
Não quero
a surdez dos bons ouvintes
Nem a
sensibilidade
Dos
comovidos
Não quero
a lucidez
Dos
desertores
Nem a
satisfação
Dos bem
vividos
Não quero
a segurança
Dos
corruptos
Nem a
crença dos religiosos
Quero
sim,
A
sordidez humana
Enlatada(pra
eu abrir)
Quero
sim,
As
incertezas humanas
(pra eu
sofrer)
Quero
sim,
Os
absurdos humanos
(pra eu
montar)
quero
sim,
a vida
latejando
de forma
desordenada...
Quero
viver!
NOSTALGIA
III
Teresa
Mello
Meu olhar
encara
Como se
sobrasse um vestígio de luz
Na sombra
da noite irreal
As luzes
perseguem os pássaros
Ávidos de
fome
A porta
permanece secreta
Em sua
mais estreita abertura
Tudo
cheira a idéias e sonhos
Mais uma
vez a tristeza encontra
Seu
habitat natural: a alma
Deixo a
chuva escorrer pelas escadas...
Um
pássaro canta num tom azul.
Lá fora a
vida, indecisa, estranha
O riso
dos homens...
A
ORQUESTRA
Teresa
Mello
Apesar
dos caminhos tortuosos
De cada
instrumento
O som é o
reflexo da
Unicidade
harmoniosa
Cada
acorde emite
Uma
emoção única
Cada solo
revela
Um
caminho...
Olho os
músicos e pergunto à Deus
Se existe
energia mais próxima
Da
bem-aventurança, do êxtase,
Da
transcendência do ser...
Alguma
coisa mais forte que
Beethoven, Chopin, Bach, Mozart...
Será?
MUDANÇAS
Teresa
Mello
Mudaram
tantas coisas...
A moeda
A
paisagem
O ritmo
Os
marido, as mulheres
As
estradas
Os
valores
As
instituições
Os
preconceitos
As luzes
As cores
Os
sons...
Mudaram
tudo
E, no
fundo, tudo
Continua
exatamente como antes...
Tudo
imutável na essência
Tudo
velho e novo...
Tudo,tudo,tudo...
MINHA MÃE
E EU
Teresa
Mello
Minha mãe
gostava de hinos
Eu gosto
de jazz
Ela via
os anjos
Eu vejo
os humanos
Seus tons
eram neutros
Os meus
são radicais
Minha mãe
gostava de regras
Eu odeio
bons tons
Seus
olhos fitavam telhados
Os meus
fitam as intimidades do coito
Minha mãe
usava chapéu
Eu uso
chapéu, colares,
Bolsas e
decotes
Suas
fitas combinavam
Minhas
fitas debocham
Minha mãe
ria nas horas certas,
Com
efeito
Eu dou
gargalhadas indecentes,
Provocadoras,
imorais...
Minha mãe
me adora
Eu adoro
minha mãe!!!
MAKE(LIFE)UP
TERESA MELLO
Um copo de vinho tinto
Derrete meu andar
Por palcos de sonhos
Construo paredes
invisíveis
Traço metas de voos
Instituo desejos
legítimos
De ser feliz
Esbofeteio as cores
cinzentas
Estrangulo meus desejos
Numa tentativa de lhes
dar vida
Pela morte, pela
sufocação
Estendo as
possibilidades
De arrepios e tremores
E reencontro
Batons vermelhos e
Rouge carmim
De mim, em mim...
Poesias lindas>Meus amigos, belissima cronica poéti ca..Tereza Mello...bom te conhecer...com carinho
ResponderExcluirheloisa crosio
Lindas poesias!
ResponderExcluirLi todos seus versos aqui expostos... amei lê-los... Parabéns!
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