quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

TERESA MELLO

DESEJO
Teresa Mello

Existe um ser dentro de mim
Que quer se libertar
Não sei se é um louco
Ou uma criança...
Não sei se é um animal
Ou um extra-terrestre
Não sei se é uma flor
Ou uma erva daninha
Não sei se é um livro
Ou uma música
Só sei que ele está
A me arranhar por dentro
De uma forma calma, sem violência
Deixando que a natureza
Flua de forma
Mais passiva e natural
Possível
Corrói, rói,
Sai, não sai...
Mas que faz cócegas,
Ah, isso faz.!!!


DESENTORTA CORAÇÃO
Teresa Mello

Desentorta, coração!
Algumas vezes preciso de você
Mais careta e comportado...
Tudo em volta
Tão bem delineado
A vida em estampas
Nas camisas das boas pessoas...
Desentorta logo
Pra eu poder entender
A vida como ela não é.
Depois eu deixo você
Se retorcer e virar
Um quadro de Dali.


DOIS LADOS
Teresa Mello

De um lado
Zango
Do outro
Rio
O direito imposto
Me faz escolhas
O esquerdo inibido
Chora e se acua
Um tem medo
Outro paixão
Medo da vida
Paixão pelo indizível
Duas metades
Que juntas
Se transformam
Nessa irreverência
Que sou eu
Mas também nessa flexibilidade
De poder circular
Pelos dois lados
Na hora que me apetecer
De um lado (dizem)
Sou louca
Do outro sou normal
Sou isso tudo e nada
Sou nada e isso tudo
De um lado transformo
O outro no meu verso
No meu dizer...
Sou a mulher,
A dona disso tudo
E do lado que eu quiser aparecer


MEUS AMIGOS
Teresa Mello


Às vezes tenho a sensação de que meus amigos são teclas de marfim de um piano que me oferece a possibilidade das mais variadas harmonias. Cada um tem seu som e timbre especiais. Meus ouvidos e minha alma se deixam embalar por acordes suaves. Algumas vezes estremeço com o reconhecimento de canções que andavam adormecidas em mim. Outras vezes viajo em sons dissonantes, estrangeiros e descubro rachaduras em compartimentos descuidados e abandonados. Certos fraseados me deliciam no descontrole das gargalhadas. Viro criança e saio dançando com o vento e o sol. Silencio meus barulhos internos pra estar inteira com o meu piano. Predadores já tentaram roubar algum marfim. Isso doeu muito na minha alma. Com algum trabalho artesanal, delicado, sutil, consegui tecer o talento de reparar tecla por tecla. E resolvi usar uma chave mágica que tranca e destranca quando meu desejo assim o quer. Meus dedos passeiam num bailado singular. Meus amigos criam bemóis, sustenidos e revelam sentidos que legitimam a minha música. Adoro meu piano. Adoro meus amigos


DESASSOSSEGO
Teresa Mello

Não quero me entupir
De soluções
Não quero a certeza
Dos sensatos
Nem a hipocrisia
Dos corretos
Não quero a surdez dos bons ouvintes
Nem a sensibilidade
Dos comovidos
Não quero a lucidez
Dos desertores
Nem a satisfação
Dos bem vividos
Não quero a segurança
Dos corruptos
Nem a crença dos religiosos
Quero sim,
A sordidez humana
Enlatada(pra eu abrir)
Quero sim,
As incertezas humanas
(pra eu sofrer)
Quero sim,
Os absurdos humanos
(pra eu montar)
quero sim,
a vida latejando
de forma desordenada...
Quero viver!


NOSTALGIA III
Teresa Mello

Meu olhar encara
Como se sobrasse um vestígio de luz
Na sombra da noite irreal
As luzes perseguem os pássaros
Ávidos de fome
A porta permanece secreta
Em sua mais estreita abertura
Tudo cheira a idéias e sonhos
Mais uma vez a tristeza encontra
Seu habitat natural: a alma
Deixo a chuva escorrer pelas escadas...
Um pássaro canta num tom azul.
Lá fora a vida, indecisa, estranha
O riso dos homens...


A ORQUESTRA
Teresa Mello

Apesar dos caminhos tortuosos
De cada instrumento
O som é o reflexo da
Unicidade harmoniosa
Cada acorde emite
Uma emoção única
Cada solo revela
Um caminho...
Olho os músicos e pergunto à Deus
Se existe energia mais próxima
Da bem-aventurança, do êxtase,
Da transcendência do ser...
Alguma coisa mais forte que
Beethoven, Chopin, Bach, Mozart...
Será?

MUDANÇAS
Teresa Mello

Mudaram tantas coisas...
A moeda
A paisagem
O ritmo
Os marido, as mulheres
As estradas
Os valores
As instituições
Os preconceitos
As luzes
As cores
Os sons...
Mudaram tudo
E, no fundo, tudo
Continua exatamente como antes...
Tudo imutável na essência
Tudo velho e novo...
Tudo,tudo,tudo...


MINHA MÃE E EU
Teresa Mello

Minha mãe gostava de hinos
Eu gosto de jazz
Ela via os anjos
Eu vejo os humanos
Seus tons eram neutros
Os meus são radicais
Minha mãe gostava de regras
Eu odeio bons tons
Seus olhos fitavam telhados
Os meus fitam as intimidades do coito
Minha mãe usava chapéu
Eu uso chapéu, colares,
Bolsas e decotes
Suas fitas combinavam
Minhas fitas debocham
Minha mãe ria nas horas certas,
Com efeito
Eu dou gargalhadas indecentes,
Provocadoras, imorais...
Minha mãe me adora
Eu adoro minha mãe!!!


MAKE(LIFE)UP
TERESA MELLO

Um copo de vinho tinto
Derrete meu andar
Por palcos de sonhos
Construo paredes invisíveis
Traço metas de voos
Instituo desejos legítimos
De ser feliz
Esbofeteio as cores cinzentas
Estrangulo meus desejos
Numa tentativa de lhes dar vida
Pela morte, pela sufocação
Estendo as possibilidades
De arrepios e tremores
E reencontro
Batons vermelhos e
Rouge carmim
De mim, em mim...

3 comentários:

  1. Poesias lindas>Meus amigos, belissima cronica poéti ca..Tereza Mello...bom te conhecer...com carinho
    heloisa crosio

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  2. Li todos seus versos aqui expostos... amei lê-los... Parabéns!

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