METAMORFOSE
Janaina
da Cunha
Meus
desejos seguem em reticências num espiral de agonia.
Sou uma
metamorfose de minhas incógnitas...
Uma
mutação desordenada de conjecturas filosóficas.
Para que
viver se não existo
na
complexidade de uma mulher livre?
No ultimo
suspiro de condenação da minha obscuridade
sigo por
caminhos tortuosos
em
direção ao cadafalso de minha consciência.
Pressinto
a sombra de demônios
que
sedutoramente me cobiçam.
Tenho a
sensação de que nada pode me salvar...
Numa
tentativa desesperada,
pego um
papel e uma caneta para expurgar os fantasmas
que
habitam no abismo do meu ser.
Olhos
conhecidos me denunciam...
Bocas
amigas me julgam...
Ninguém
conhece as cicatrizes que carrego na alma
e nem
imagina a luta incessante que enfrento
toda vez
ao me ver no espelho.
Quem é
essa imagem refletida?
Quem
realmente eu sou?
Sobrevivo
num redemoinho de emoções...
Vivo numa
confusão feroz de sentimentos...
mas sigo
em frente!
Sigo em
frente na contramão do ser e do querer.
Sigo em
frente na contradição da prática e da teoria.
Minha
vontade firme de expandir-me
ao
encontro dos meus sonhos
é muito
maior do que a fraqueza
antropológica
que me persegue!
Estou
cansada de ser uma caricatura de mim mesma
esperando
a original sair do casulo.
Ainda sou
larva em transformação moral.
Salve,
salve *Beauvoir!
Se tu
conseguistes... também conseguirei!
* Simone de Beauvoir: escritora, filósofa
existencialista e feminista francesa. Escreveu romances, monografias sobre
filosofia, política, sociedade, ensaios, biografias e uma autobiografia.
Companheira de Jean-Paul Sartre.
HORAS
MORTAS
Janaína da Cunha
Minha
alma desliza no branco do papel
versos
noturnos e solitários.
A insônia
acorda meu sono em busca
de
suprimentos para o vazio que me devora.
Sinto um
abismo incoerente em meus pensamentos
que me
distancia da mulher que sou
e daquela
que desejo ser.
Tenho
sede de vida... fome de mundo!
Sou
poeta...
sou uma
fonte inesgotável de sentimentos.
Nestas
horas mortas que me perseguem
entrego-me
aos desejos mais profanos e,
ao mesmo
tempo,
tão
diáfanos!
O que
fazer?
Não me
contento com pouco
porque
tenho um universo dentro de mim.
Posso ter
o direito de sucumbir às veleidades
que me
enlaçam
num
devaneio louco de mulher comum?
Não! Eu
sou poeta!
Pouco a
pouco encontro em mim
os
murmúrios de poesia que
vão
criando as formas mais imagináveis.
Não,
não... não! Eu quero mais!
Não me
contento com palavras vazias...
quero
mais, muito mais!
Ambiciono
a MAIS poluidora das inspirações,
a arte
MAIS libertadora,
o
encontro MAIS improvável de céu e inferno.
Sim!
Mais... sempre MAIS!
A
madrugada faz do meu quarto
um túmulo
mundano
com
janelas emperradas
e
cadeados enferrujados.
Lá fora a
lua presencia meu velório poético
enquanto
o vento sincroniza
a marcha
fúnebre da madrugada.
As horas
seguem o enterro das estrelas
que
choram a solidão de meus versos.
Ah!
Destino contraditório de um poeta que caminha involuntariamente entre a benção
e a maldição.
O galo,
atrevidamente, anuncia o despertar do sol...
Porém,
dentro de mim, a escuridão ainda persiste.
Morro em
cada ponto final,
mas
revivo na ilusão de um novo parágrafo.
GRITO DO SILÊNCIO
Janaína
da Cunha
A música
desafinou
e a
poesia afogou seus versos
num copo
de dor.
As
verdades se estranharam...
cada uma
na realidade do seu olhar interior.
E o que é
verdade?
Sim, eu
acreditei e ainda acredito... em mim!
Sei quem
sou e isso me basta.
Eu sou
meu pára-raio.
Sou minha
chuva, meu sol
e meu
próprio caminho.
Esperei
atitudes certas que se calaram
na
contradição do verbo.
O que
dizer?
Nada.
Ninguém
vai ouvir.
Quando as
palavras calam, o silêncio grita.
VERDADES
Janaína
da Cunha
Cansei.
Não quero
mais viver mentiras.
Mentiras
ricas de grinaldas e cetim.
Não quero
estar coberta de vidros
na ilusão
que são diamantes.
Quero
verdades sinceras,
sentir a
dor de um espinho
e me
encantar com a beleza da rosa.
Perder o
fôlego num beijo louco
e
entregar meus desejos de fêmea
no breu
misterioso da paixão.
Quero
verdades intensas, singelas,
discretas,
escandalosas,
santas...
pecadoras,
bonitas e
feias.
Quero a
verdade mais verdadeira!
Dançar
descalça acompanhada da chuva,
deitar no
chão molhado
e me
embriagar de vida!
Para quê
cobiçar a lua
se o céu
inteiro me espera?
CORPO NU
Janaína
da Cunha
Encontrei
o corpo nu
de meus
versos
deitado
imoral
no berço
das inspirações.
Encontrei
o corpo nu
de meus
versos
incógnito
disfarçado
no sujeito oculto das orações.
Encontrei
o corpo nu
de meus
versos
nas rimas
desencontradas
nas
palavras soltas
simbióticas
a bailar
no céu da boca.
Encontrei
o corpo nu
de meus
versos
desesperado
louco
para ser encontrado
revelado
numa
masturbação visceral
explodindo
em orgasmo do Ser
prazer de
Ser
o Ser...
VERBO!
A PERDA
DA INOCÊNCIA
(ao meu
pai Euclydes R. da Cunha Neto)
Janaína
da Cunha
Eu vi um
pássaro cantando no túmulo de um pai.
Vi as
lágrimas de uma mulher e a inocência de uma criança.
Eu vi a
amargura de uma mãe no fim do mês.
Vi a
panela vazia no fogão e a "sujeira" debaixo do tapete.
Também vi
a filha de alguém sozinha na multidão,
não pedia
nada a ninguém... apenas estava lá.
Observei
pessoas passando indiferentes,
apressadas,
não viam ninguém... apenas passavam.
Eu vi a
perda da inocência.
Vi as
promessas de um político e a incredulidade de um povo.
Observei
a fome brindando nas esquinas
e a
ambição escravizando o coração do tolo.
Eu vi o
círculo fechando,
as cenas
se encontrando,
a vida
repetindo...
Eu vi...
Vi uma
menina crescendo,
uma
senhora me olhando...
Eu vi a
minha imagem no espelho!
CANTO
Janaína
da Cunha
Canto
promessas insanas ao vento sem saber onde vão cair.
Canto
dores sombrias, almas sem rostos
e
sentimentos que nunca senti.
Canto no
canto do silêncio de quem não tem voz
infinitas
palavras para quem não deseja ouvir.
Canto nos
quatro cantos
o canto
melancólico dos desgraçados,
as faces
dos preconceitos camuflados
e a
maldade escondida atrás das máscaras.
Ignoro a
todo instante os apelos vãos
de quem
clama por minha sensatez
e me
rebelo contra a imagem distorcida
que vejo
diante do espelho.
Quem sou
eu?
Quem são
vocês?
Não
concordo com o canto de quem se engana
que a
destruição do mundo é culpa dos canalhas e corruptos.
Mentira...
mentira!
A culpa é
da omissão de quem se cega,
da surdez
de quem finge não escutar
e da boca
covarde que se cala diante da indignação.
Levanto
minha voz contra a hipocrisia
e o comodismo
dos que me cercam e canto!
Sim... eu
me atrevo e canto!
Canto as
lágrimas dos inocentes,
a
angústia da mãe que reza
e o pai
que volta pra casa de mãos vazias.
Canto a
fome dos miseráveis,
os
pesadelos de quem dorme na impunidade
e os
demônios deitados em camas ricas
de uma
consciência sem lei.
Eu canto
mesmo sem saber cantar
porque a
pimenta que arde na sua língua
é a
poesia que queima em mim!
MERGULHO
Janaína
da Cunha
Mergulho
em águas
bravias
de
misteriosas incertezas.
Mergulho
de olhos
vendados,
descobertos...
fechados,
abertos...
mergulho.
Banho o
corpo dos meus versos
no
magnetismo refletido
em outro
olhar.
A imagem
do verbo
no
espelho das águas ocular
atrevidamente
me chama...
e eu vou!
Poeta:
misto de
benção e maldição!
Por que
amamos com tanta intensidade...
com tanta
entrega?
Por que
nos deixamos levar em ondas de delírios que vem e vão...
que vão e
vem...
vem e vão
em vão... ou não?!
Porque
essa necessidade louca,
quase
mórbida,
de ser,
sentir...?
Se amar é
sofrer...
então, me
sinto viva na dor?
Eu quero
é ser feliz!
Mergulho
em sinônimos
antônimos
antagônicos
plurais.
Perco o
fôlego, quase morro...
Reavivo
no boca-a-boca da vida,
retorno e
me corto entre corais...
Sobrevivo.
Insisto!
E
novamente mergulho!
Sim... eu
mergulho.
A alma de
um homem
é o meu
Oceano!
A MORDIDA
NA MAÇÃ
Janaína
da Cunha
Sutil,
chego
assim:
sedenta,
molhada... um fogo dentro de mim!
A roupa
vermelha na pele incendeia.
O desejo
é uma mordida
na tua
boca de carmim.
Teu corpo
tem gosto de fruta proibida,
maçã dos
outros,
sabor do
pecado
que
embriaga...
me
excita!
A CAIXA
Janaína
da cunha
Essa pele
que me veste
rascunha
intenções invisíveis.
Meu corpo
é uma caixa
onde
minha alma exilada se oculta em busca de mim.
Perdi o fôlego!! Adorei!!
ResponderExcluirFatima, fico muito feliz que tenha gostado. Obrigada pelo carinho, minha flor... Gratidão!
ResponderExcluirUm beijo!!
Naldo Velho, querido amigo-poeta,obrigada pelo companheirismo, pela sua arte que nos embriaga de encantamento e pelo lindo ser humano que é.
ResponderExcluirSinto-me orgulhosa e feliz de ser sua amiga.
GRATIDÃO!!!
Grande beijo!
Maravilhosos poemas
ResponderExcluirQuerida poeta
Carlos Orfeu, querido amigo-poeta, obrigada pelo carinho.
ResponderExcluirTamos juntos... somos a mesma estrada!
Grande beijo!