PÁSSARO
FUGIDIO
Cristina
Lebre
Onde
estão suas asas,
para
pousarem em meu colo
como o
descanso do filhote?
Para se
abrirem leves no espaço
Como a
saudação dos justos?
para
voarem livres num céu límpido
mostrando
as direções
do meu
horizonte?
Guardou seus
sonhos
escondeu
seus anseios
trouxe-me
pesadelos.
Por que
fugiu com esse olhar triste?
para me
deixar solta
em longas
madrugadas
como a
ovelha perdida do pastor?
Para me
deixar presa à sua imagem
como fiel
devota?
Para me
nutrir de conflitos
expondo meus
medos e dúvidas?
Fincou
cercas ao meu redor,
plantou
sementes num solo distante
de onde,
mesmo assim,
colho a
mágoa e a angústia.
Agora
cato seus pedaços
na trilha
sórdida em que se transformou meu caminho
no barro
úmido onde me lambuzei,
escorreguei
cansada e,
a um
companheiro pranto,
me
entreguei.
A CASA
AMARELA
Cristina Lebre
A casa
amarela
É feita
na pedra.
Na parede
da sala
Dela
Tem uma
pedra enorme
Uma
parede de pedra.
A casa
amarela
É fundada
na rocha
Que nada
quebra,
Nem
tempestade, nem peste
Nem
praga, nem tocha
De fogo
ardente.
A casa
amarela não pende
É fundada
na rocha.
A casa
amarela
Cercada
de eras
Beirando
as janelas
É ainda
mais bela.
Tomada
por rosas
E
beija-flores
Escondida
entre tulipas
E grandes
amores
É assim
como o mais lindo jardim
A
natureza exposta.
A casa
amarela
A casa
serena
Fundada
na rocha
Virou um
poema.
BRASA
VIVA
Cristina Lebre
O Sol
esquenta
Pinta o
céu de cores
Amarelo-ocre-magenta
Sua
majestade, o Sol
mobiliza
almas inquietas
agiliza processos
de cura
impulsiona
corpos,
em sua
direção reta
da Terra
ao céu
da
estrada sem rumo
ao léu
ao
bel-prazer de seus raios
das
areias fumegantes
ao seu
calor nu, direto
seu véu.
Sol
brando de inverno
escaldante
de verão
brilha
intenso a cada amanhecer
irradia
esperança
trança,
define
lança
energia
contagia.
PERCEPÇÕES
Cristina Lebre
Procuro
no teto
ou no chão
a chama
da vida
o que me
empurra
quem me
sussurra
“continua...”
Areia nos
olhos
pedras no
caminho
vento no
rosto;
tudo me
tira a visão,
tudo me
aponta
solidão.
Escarneço
desfaleço
estremeço
e meu
corpo,
sucumbe
balança
vacila
amolece
derrete
procura
o
alicerce
no sótão
no porão.
A causa
o efeito
a
consequência
a mancha
a chaga
a ofensa
o afeto
a marca
a rocha
a morte.
NAQUELA
TARDE
Cristina Lebre
Eu vi
Deus naquela tarde
sentado
ao nosso lado
naquela
mesa de bar.
Eu vi
Deus em cada palavra nossa
nos
nossos olhos nos olhos
em nossas
mãos cruzadas
eu senti
Seu pulsar.
Eu vi
Deus nos conduzindo
nos
protegendo
nos
preservando
nos
separando.
Eu vi
Deus no nosso adeus
Ele
estava tão presente
e foi tão
lindo
quanto o
recordar.
Eu vi
Deus em todo o tempo
naquela
tarde quente
no fundo
do ser da gente
nos
dizendo que de repente
O nunca
mais é um pouco demais.
Eu o vi
Ele
estava à nossa frente,
na
perfeição de cada gesto nosso
na beleza
das nossas emoções.
No calor
daquele abraço
tão
gostoso, tão grudento
Ele
preparou todo aquele momento
momento
prá inspirar
poemas,
risos, lágrimas
vida prá
se levar.
CASCATA
Cristina Lebre
Vem,
poema
vem feito
regra
e escorre
na pedra
pra eu
copiar.
Venham,
palavras
certas,
claras
venham
correndo
pra no
silêncio abafado
eu
decifrar.
Vem,
solidão
eu sou
poeta
e quero
de ti
consideração
pois
preciso de ti
pra
compor um refrão
sem
interrupção.
Já tomei
banho de lua
na praia
deserta
e um amor
de verão
me viu
nua e liberta
da
satisfação, da hipocrisia
minh'alma
arredia.
Desçam da
mente
ao papel,
sem motivo aparente
mas
desçam, porque sou poeta
e esta é
a minha meta
contar o
amor
minha
mente é inquieta.
Quem faz
poesia
não vive,
sofre
não
dorme, sonha
com a
tela vazia
a
encher-se de estrofes.
Quem faz
poesia
percebe,
procura e sente
abre
chagas no peito
tem
sangue de gente
que morre
de amor
mas não
cansa de amar.
Segue escrevendo
e
sentindo tão fundo
a agonia
do mar
que se
afasta e se achega
e toca na
areia
em ondas
sozinhas
constantes,
vizinhas.
Quem faz
poesia
tem a
alma vazia
pra vida
comum
que cedo
inicia;
mas cruza
noites em claro,
a encher
o caderno
dos
versos mais raros.
TERRA
SECA
Cristina Lebre
Na aridez
melancólica da minha estrada
aonde ia
arrastando, abatida
a poeira
dos meus passos,
de vez em
quando de via.
Lá, vez
por outra, me acordavas,
Sobressaltada,
Num susto
gostos de um beijo.
Era bom, mas
acabou.
Agora
fico a chorar por ti
que foste
embora
no suave
murmúrio de uma chuva fina
no brotar
das lágrimas de hoje
e de
outrora.
A cantar
à lua cheia de esperança
a eterna canção da saudade.
O
IMPERFEITO DO AMOR
Cristina Lebre
Por todo
o momento
não
vivido
desperdiçado,
despedaçado
perdoa-me.
Por toda
a palavra de amor
não dita
economizada,
subestimada
perdoa-me.
Por toda
a palavra vã proferida
magoada,
sentida
bruta,
impensada
desculpa-me.
Por todos
os erros no amor
por toda
a atenção
não
dedicada
desleixada,
negligente
tem
compaixão
coisa de
gente.
Por toda
a indulgência
por tanta
secura
por todo
o esquecimento
pela
amargura
(erros de
criatura)
chora,
pranteia, arrepende,
e,
sabendo sermos todos não mais que pó,
zera,
supera
compreende.
QUANDO O
CORAÇÃO AMA
Cristina Lebre
DO LIVRO
OLHOS DE LINCE
O coração
quando ama
Bate asas
feito gaivota
Numa rota
linear.
Brisa
branda
mergulhos
fulminantes
no mar.
O coração
quando ama
tem febre
teme o
fim;
quase
enfarta
por vezes
vê-se sozinho
em seu
amor que só cresce.
Coitado
do coração
sente o
corpo que habita
tomado,
doado, prostrado
doído de
amar.
Às vezes
até quer se livrar
quer
bailar entre as nuvens
sem
pensar.
Quer
resgatar
um pouco
de si
quase
tudo entregue
ao ato de
amar.
BITTER
TASTE
Cristina Lebre
Acordar é
amargo
Num
primeiro pensamento
divago
sobre
nosso amor
destroçado...
Pisado,
humilhado
destruído
em um só
segundo
como
explosão no universo
como
eclosão no centro
do
mundo...
Abrir os
olhos
é a pior
parte do dia
depois
tudo vai virando poesia
até a
sorte
de
difamar
nossas
noites de sexo
até o
cheiro acre de enxofre
em nossos
hálitos cálidos
agudo
ardor
até mesmo
o batimento lento
da agonia
de nossa
morte.
Ah, que lindo, obrigada, amigão Naldo Velho, companheiro da poesia, poeta maravilhoso! Juntos somos mais, Deus te abençoe, queridão!
ResponderExcluirCristina é esplêndida!!!
ResponderExcluir(aplausos)